Pedagogia DA AUTONOMIA: A PRÁTICA DOCENTE PAUTADA PELA ÉTICA HUMANISTA
(Márcia Elizabeti M. de Lima e Maria José da Silva)
PEDAGOGIA DA AUTONOMIA: A PRÁTICA DOCENTE PAUTADA PELA ÉTICA HUMANISTA
A partir da crença na imortalidade de Paulo Freire, e na inspiração que a atualidade da sua obra continua despertando nos educadores, é que nos foi proposto como parte das atividades do projeto de formação continuada Sala de Formador, a leitura de diversas obras freirianas. Entre elas, fomos contempladas com a Pedagogia da Autonomia, São Paulo: Paz e Terra, 1996, que ora nos motiva essa produção.
Com o subtítulo Saberes necessários à prática educativa, Freire nos oferece uma verdadeira aula do que é ser professor, discorrendo sobre as exigências do exercício da docência, nos leva a questionar a própria prática, abalando as certezas construídas.
Sempre convocando os educadores a pensarem certo, o saudoso mestre materializa em texto a sua filosofia educativa a respeito da complexa relação professor/aluno, em que afirma sabiamente “Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro”(p. 23). Destaca, também, a importância do respeito aos saberes dos educandos, e a necessidade de um trabalho que prime pela pesquisa, objetivando ao que chama de promoção à curiosidade epistemológica, que se dá por meio da indagação da realidade, fomentada pelo professor, ao se colocar como sujeito que olha o mundo, criticamente, e não como alguém que se conforma com ele.
Ao defender uma prática pedagógica pautada pelo rigor, pelo respeito às diferenças, pela pesquisa, pela aceitação do novo, pela criticidade, pela ética, em que o professor eduque pelo exemplo, alinhando o discurso à prática, Paulo Freire traduz tudo isso como “Decência e boniteza de mãos dadas”.(p.32).
À luz do entendimento de que somos seres em constante construção, Freire alerta à conscientização da possibilidade de reversão do condicionamento sócio-cultural de que somos vítimas, assim se pronunciando: “Gosto de ser gente porque, mesmo sabendo que as condições materiais, econômicas, sociais e políticas, culturais e ideológicas em que nos achamos geram quase sempre barreiras de difícil superação para o cumprimento de nossa tarefa histórica de mudar o mundo, sei também que os obstáculos não se eternizam.”(p.54). Para tanto, ressalta o papel de uma educação que se reconhece como responsável à formação de sujeitos agentes, de educadores que exercitam a autonomia na prática cotidiana, respeitando a autonomia e a dignidade do outro.
Uma das questões de grande importância discutidas na obra, diz sobre os equívocos relacionados à compreensão do que seja autoridade, confundida, muitas vezes, com autoritarismo; e da liberdade confundida com licenciosidade, que implicam em problemas de disciplina/indisciplina, dificultando as relações no interior das salas de aula, e influenciando, fortemente, no processo de ensino e de aprendizagem. Alerta, então, que “Somente nas práticas em que autoridade e liberdade se afirmam e se preservam enquanto elas mesmas, portanto no respeito mútuo, é que se pode falar de práticas disciplinadas como também em práticas favoráveis à vocação para o ser mais.” (p.89).
Perseguindo o objetivo de refletir sobre a educação voltada aos ideais de uma formação integral, que conjugue valores cognitivos, afetivos, políticos, culturais, sociais, de forma indissociável, nosso autor nomeia o terceiro e último capítulo: Ensinar É Uma Especificidade Humana. Aqui é o lugar em que Freire reforça os conceitos abordados em outras partes da obra, em que reafirma a sua defesa da necessidade de que o professor se comprometa em construir, constantemente, a competência profissional, ancorada em valores humanos, que constituem os pilares da autoridade docente.
Entre os valores apresentados como essenciais ao ensino comprometido com a formação humana, é dada bastante ênfase à generosidade, que impede a manifestação da arrogância, expressada, às vezes, pelo desrespeito ao processo cognitivo do educando, que, nem sempre, é semelhante ao do educador, o que não se constitui em inferioridade. Completando essa idéia, temos que “O clima de respeito que nasce de relações justas, sérias, humildes, generosas, em que a autoridade docente e as liberdades dos alunos se assumem eticamente, autentica o caráter formador do espaço pedagógico.” (p.92).
Imbuída do pensamento que perpassa todas as obras de Freire, a ética humanista, nesta obra, em especial, aponta para a importância do exercício responsável da docência que se deixa guiar por princípios essencialmente humanos, com toda a complexidade que envolve uma prática pedagógica pautada na “escuta do outro”, na “dialogicidade”, na “abertura” constante ao próprio crescimento, que não descarta o crescimento do outro. Concluindo, “O nosso é um trabalho realizado com gente, miúda, jovem ou adulta, mas gente em permanente processo de busca.” (p. 144)
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