Desenvolvimento no centro e na periferia.
(BRESSER PEREIRA)
O comércio entre os países desenvolvidos (países centrais) e entre os países subdesenvolvidos (países periféricos) foi estudado por Raul Prebisch. Em sua análise, Prebisch observou as relações centro-periferia.
A periferia foi qualificada como uma área ampla e heterogênea, marcada por regiões atrasadas e regiões avançadas, em que grande parte da população reside de forma precária. Como exemplo, ele cita a América Latina. Algumas características básicas destas regiões: a produção é baseada nos modelos das economias centrais, a mão-de-obra é abundante, a tecnologia é escassa, bem como não existe poupança interna capaz de alavancar um processo autônomo e independente. Observando a periferia, Prebisch chegou a conclusão de que o avanço técnico foi empregado apenas nos setores produtores de alimentos e matérias-primas, os quais eram destinados à exportação para os grandes centros industrializados. As economias dos países periféricos possuem poucas possibilidades desempenhar uma política anticíclica, via regulação do investimento. Isso porque as exportações são dependentes do comportamento da demanda externa, o que aumenta em muito a sua vulnerabilidade.
Já o centro caracteriza-se por uma estrutura econômica homogênea baseada nos moldes do capitalismo. Neste, a qualidade de vida é bem superior. O progresso técnico se difundiu em todos os setores: agrícolas e industriais, permitindo assim o aumento da produtividade de forma simultânea.
De fato, o desenvolvimento econômico dos centros periferia apresentou características distintas do processo de desenvolvimento por que passaram os grandes centros industriais, devido ao estágio da técnica produtiva. Quando os centros iniciaram seu desenvolvimento, o seu nível de renda per capita era baixo, mas compatível com as exigências da técnica produtiva. O avanço da técnica ocorreu concomitantemente ao aumento da renda, o que possibilitou a geração da poupança necessária para a formação de capital e a criação de uma infra-estrutura adequada. A escala produtiva foi sendo ampliada em consonância com o aumento da demanda e os equipamentos são poupadores de mão-de-obra.
Os países da América Latina, sem poupança, com uma demanda limitada e sem capital foram prejudicados ao implantarem modelos semelhantes aos empregados nos centros. Nestes, a produção é realizada em larga escala, com elevado coeficiente de capital per capita e menos mão-de-obra.
Esse tipo de modelo prejudicou em muito os trabalhadores da periferia. Nesta, a mão-de-obra é abundante e aufere baixos salários. Ao importar os aparelhamentos projetados para as condições do centro, elevou em muito o desemprego, pois esses equipamentos são poupadores de mão-de-obra e intensivo em capital, fator mais escasso na periferia. Por outro lado, ao adiar a instalação de um setor de bens de capital, o desemprego foi ainda maior, pois o avanço do progresso técnico não foi compensado pelo aumento da demanda por esses bens. Caso houvesse havido tal crescimento, haveria também gerado mais empregos. Um setor de bens de capital geraria ocupações e permitiria um aumento da demanda agregada pelas exportações de tais produtos para o exterior.
Dessa forma, o desenvolvimento econômico da periferia foi marcado por características distintas do centro, o que lhe confere uma série de peculiaridades e exige, de acordo com Prebisch, um instrumental analítico e um conjunto de medidas econômicas próprias, adequadas à condição periférica.
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