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A CASA DO DELÍRIO
(Douglas Tavolaro)

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O Manicômio Judiciário de Franco da Rocha deixou de ser um dos mais importantes hospitais-presídio da América Latina, para tornar-se um “depósito de loucos” superlotado, com os horrores dessa situação: fome, sujeira, doença, violência. Inaugurado em 31 de dezembro de 1933, no início abrigava 150 doentes mentais criminosos, sendo todos homens; em 1943 foi instalada uma colônia feminina. A construção foi arquitetada para tornar todos os espaços vigiáveis. Os cantos arredondados da cela permitiam que os guardas a avistassem inteiramente. Os banheiros e as privadas também eram expostos, para impedir toda tentativa de fuga.
O Manicômio possuía estrutura de presídio de segurança máxima, com duas vigias em muros altíssimos. O prédio tinha três andares: primeiro, o bloco administrativo e consultórios;  segundo, vinte celas fortes individuais, para doentes perigosos; terceiro dormitórios coletivos, com até trinta internos.
Durante a ditadura militar começou a decadência do manicômio. Com capacidade para 420 leitos, chegou a abrigar 1800 pacientes, os laudos eram padronizados em esquizofrenia paranóide. Pacientes passaravam por tratamentos bizarros como "malarioterapia", "traumoterapia", eletrochoque entre outros, quem desrespeitava as normas de conduta era punidos com doses excessivas de remédios.
Os pacientes, vítimas dos mais diferentes tipos de transtorno mental e grau de periculosidade conviviam no mesmo espaço exíguo, muitos andavam nus pelos pavilhões, higiene não existia, a maioria defecava em público e alguns chegavam a comer as fezes que se acumulavam pelo pátio. Um esgoto a céu aberto atravessava o manicômio, muitos bebiam a água podre que corria. Dormiam em um improvisado colchão coletivo, formado por capim sobre o chão de cimento. Os pacientes se amontoavam para comer em cochos, buracos no chão de cimento, onde a comida era despejada. As camas eram colocadas nos corredores da enfermaria, e doentes dormiam escorados nos sanitários. O número de mortes era grande na década de 1960.
A fase de decadência agravou-se na década de 1970, havia rumores que a instituição colaborava com órgãos de repressão da ditadura militar. Muitos acreditavam que, todos os dias, presos políticos eram internados como doentes mentais.
A situação caótica do manicômio começou a ser amenizada na virada da década de 1980, com a diminuição da violência moral existente. As transformações começaram a partir da ação da corregedoria dos Presídios, que impulsionou uma completa reestruturação do sistema penitenciário e pelo fato de que ganhava força as correntes que lutam pelo direito de cidadania do doente mental e por sua reintegração na sociedade. Uma contribuição valiosa do ponto de vista terapêutico foi a mudança de foco do uso das drogas antipsicóticas e antidepressivas. Assim o eletrochoque foi abolido.
Outros fatores contribuíram para conter a fase de deterioração, entre os quais a integração, no quadro de funcionários, das funções de assistente social e de psicólogo. Uma grande conquista ocorreu entre 1981 a 1984, com o inicio das visitas domiciliares, uma vez que quase não existia o contato com familiares, o que prejudicava o tratamento. Muitos ficavam meses sem receber visita ou correspondência, sentiam-se renegados e entravam em crise, regredindo no tratamento. Com a autorização de visitar sua casa, a maioria dos internos passou a ter ganhos terapêuticos nunca vistos antes.
As melhorias foram sendo sentidas: o número de médicos quadruplicou; assistentes sociais, psicólogos, terapeutas ocupacionais, técnicos desportivos, enfermeiros e auxiliares foram contratados.
Quanto aos pacientes do manicômio grande parte é de classe social baixa, sem profissão definida e com pouca escolaridade. As principais enfermidades são: esquizofrenia, psicose, epilepsia, transtornos delirantes e psicopatia. A maioria dos pacientes foi condenada como medida de segurança, por ser considerada inimputável pela Justiça. Outra parte enlouqueceu enquanto cumpria pena nas cadeias do sistema penitenciário.
Quando  chegam ao manicômio são identificados, tiram foto, ganham a roupa e em seguida são encaminhados para o CTI, onde permanecem em observação até o primeiro laudo psiquiátrico. Quando há suspeitas de crises agudas, o paciente é trancado na cela sem roupa. Depois da liberação do CTI os pacientes passam por uma entrevista no Setor Social. A loucura irreversível faz parte da realidade em Franco da Rocha, muitos morrem na instituição.
Um fenômeno crescente nos últimos anos, tem sido o da internação de mulheres entre 18-25 anos, por uso de entorpecentes. O traço de abandono também se reproduz: menina de rua, interna da Febem, presa comum e, finalmente, paciente do Manicômio Judiciário. A maioria dos delitos está vinculada a consumo e tráfico de drogas e tragédia familiar.
A terapia ocupacional é fator decisivo no tratamento dos doentes mentais em Franco da Rocha, incentivando neles atividades de trabalho e educação desenvolvidas em programas pelo Centro de Assistência Complementar. Há duas salas de aula, sendo que 110 alunos-pacientes assistem às aulas, além disso a escola tem uma biblioteca que conta com o acervo de 600 livros. Os pacientes desenvolvem atividades recreativas e exercícios físicos. Além do futebol, o núcleo de recreação, comanda diversas atividades, como cursos de arte, gincanas e festivais de música e atividades religiosas.
Hoje há o Programa de Desinternação Progressiva que é a criação da "colônia de desinternação", este é um método terapêutico que faz com que alguns doentes mentais criminosos ganhem gradativamente a liberdade.
Não é preciso muito esforço para compreender que as pessoas estão pensando em tornar o manicômio Judiciário melhor, mais digno ou menos cruel.  Em seu universo existe muito mais do que apenas a miséria absoluta.
Hoje, com a dignidade em recuperação, luta para livrar-se do estigma de ter sido “um inferno onde quem entra só sai morto”.  



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