Mitos dos índios kayapó (3)
(Horace Banner)
Era um dia de setembro, um dia que amanheceu como outros,um dia de verão.sem nuvens no ceu, nem vestígios de chuva. Mas quando o vento de meio-dia começou a soprar,vinha cálido do ocidente e não do leste como costumava. À tarde ouviu-se uma trovoada a grande distância, mas logo a seguir apareceu uma nuvem espêssa que subia do nascente, avançando com ameaças e dizendo, numa lingua que todos compreendiam, que com ela vinha o inverno. Intimidados, os passarinhos deixaram de cantar e os sapos de coaxar.Não se ouviam nenhum som e tudo estava imóvel. Somente nas casas dos índios havia agitação, preparativos febris para receber o temporal que avançava ameaçador.Na penumbra daquela atmosfera eletrificada, os guerreiros sairam como quem vai expulsar um agressor. Com cabeças recém-raspadas, corpos pintados de preto, tendo nas mãos armas de toda espécie: rifles e espingardas,cacêtes e lanças,arcos e flechas, formavam uma frente capaz de intimidar os mais corajosos. Mas apesar de tiros e gritos, a tempestade desencadeou-se sobre a aldeia com uma fúria tremenda, levantando nuvens de poeira, suspendendo palhas, arrancando capotes e derrubando casas inteiras.Diante disso os índios tiveram que desistir.Bekororoti estav zangado,em nada tendo diminuido o poder dos seus trovões e relâmpagos,nem o seu antigo ódio aos filhos da terra. Um dia Bekororoti teve um grande desgosto. Mataram uma anta,e apesar de ter ajudado não lhe deram carne.No dia seguinte não quis acompanhar os caçadores,ficando em casa.Ali raspou a cabeça,desde o alto até a fronte,e pintou o corpo de preto,chamou a mulher e abandonou a aldeia.Quando os caçadores retornaram,enquanto esperavam sentados que as mulheres assassem a caça,ouviram gritos vindos de um outeiro vizinho.Lá estava Bekororoti, desafiando a todos para que fossem lutar com ele,falava com tanta insolencia e teimosia que os índios não encontraram outra saída senão mata-lo.Mas quando os caçadores procuraram fazer pontaria, ficaram paralisados por um fogo que reluzia nos olhos de Bekororoti,e quando avançaram para ver de perto, o índio brandiu o espadão, que despediu raios e descargas e fulminou a todos.Depois disso , Bekororoti, o espirito do mau tempo, subiu ao Céu e desapareceu.Até hoje continua a flagelar a humanidade.
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