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Balbina, a hidrelétrica do caos
(Agnaldo Brito - ''O Estado de São Paulo'')

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A 180 Km ao norte de Manaus está instalada a hidrelétrica mais ineficiente do país, dentre as 13 existentes. Construída durante a ditadura militar, ao custo de 1 bilhão de dólares, essa usina é uma estupidez sem tamanho. Para começar, escolheram uma área extremamente plana e sem o declive necessário. Inundaram nada menos que 2,6 mil quilômetros quadrados de florestas nativas, sem a menor preocupação em retirar seus troncos para aproveitamento. Hoje, o apodrecimento de suas raízes emite quantidades gigantescas de gases de efeito estufa, cerca de 3,3 milhões de toneladas de carbono por ano! Só em termos de comparação, para cada megawatt/hora (MW/h) gerado em Balbina são liberados 3,3 toneladas de carbono na atmosfera. Numa usina térmica de carvão, considerada uma das mais poluidoras, a relação entre  emissões de gases e a geração de 1 MW/h é de 0,33 tonelada. Para o pesquisador Alexandre Kemenes, do programa Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia, isso resume o despropósito da existência dessa hidrelétrica. Há uma grande disparidade entre a capacidade de produção de energia e a área inundada. As águas do imenso lago formado em Balbina geram apenas 120 MW de energia em média. Tucuruí, também na região amazônica, tem um lago de 2,4 mil Km² do rio Tocantins e sua usina produz  cerca de 4.245 MW, ou seja 17 vezes mais que Balbina. Se tomarmos Itaipú como exemplo, a disparidade fica ainda maior. A hidrelétrica da região sul tem 1,3 mil Km² de lago, metade da hidrelétrica amazônica, e gera 14 mil MW!
Quase 20 anos depois de sua instalação, a usina produz imagens de fim de mundo. A enorme quantidade de árvores submersas abandonadas na área inundada estão apodrecendo e acumulam sedimentos tóxicos. Quando a Eletronorte liberou as turbinas para funcionar, a água liberada já estava saturada de material orgânico em decomposição. O pescador Marcos Cláudio afirma que depois disso o peixe sumiu, pois foi tanto peixe morto que desceu com aquele caldo venenoso que tiveram que fazer um enorme buraco para enterrar tudo aquilo. Outro pescador diz que já foi o tempo em que peixe na região de Balbina valia mais que ouro. O Tucunaré, peixe para os paladares mais exigentes, havia em fartura. Além de não ter mais o que pescar, os pescadores agora têm que ficar em áreas restritas. Depois que o governo federal criou duas áreas proibidas para pesca naquela região, os pescadores são multados com quantias entre 1 mil e 2 mil reais se forem pegos fora da área permitida. Muitos já pensam em ir embora dali se o peixe nunca mais voltar. Além disso, várias tribos perderam tudo quando da construção da usina. Talvez os uaimiri-atroaris sejam a única etnia que ainda recebeu alguma compensação. Nos anos 70, pesados tratores destruíram toda sua cultura para a construção da BR-174, do projeto Pitinga para extração de cassiterita e também para a hidrelétrica de Balbina. Só a hidrelétrica inundou 300 Km² de terra indígena e pagou a eles cerca de US$ 12,1 milhões.
É fato que os uaimiri-atroaris ficaram ricos da noite para o dia, mas também ficaram sem ter o que fazer. Hoje são extremamente pacíficos, não caçam mais e nem pescam.
Com o dinheiro recebido, que é gerido por representantes da FUNAI, eles estão construindo escolas e montando criações de patos, gado, caititus, capivaras, galinhas, antas e tartarugas, bichos típicos da região.
Os índios ficaram ricos, a floresta ficou mais pobre, e o grande lago formado emite 84% dos gases de efeito estufa da região. E, acredite se quizer, na sala onde ficam as turbinas da usina tem uma frase enorme dizendo: "Balbina, respeito à natureza"!



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