Memórias Armadilhadas
(Ana Cristina Leonardo)
Armando Baptista Bastos, BB para os amigos não necessita de grandes apresentações. Jornalista da velha guarda, entrevistador de notas rápidas que pôs Matateu a dizer que o seu país preferido era a Itália, “por causa das mulheres que gostam muito de pretos”, cultor de relações fortes e do oficio “engaje”, acaba de publicar mais um livro. Defensor obstinado de que a literatura e jornalismo são dois ramos da mesma estirpe, reúne um A Cara da Gente mais de meia centena de crónicas pondo em cena gente de carne e osso.
Exercício de memória que não esconde saudades, nele se regressa à infância, aos bairros populares de Lisboa, ao cheiro da tinta dos jornais, aos amigos, vivos e mortos. “Escrevo coisas. Não sei se sabem mas escrevo coisas”. A humildade é aparente. Logo a seguir se diz: “Sou escritor de bairro. Não sei se ligam ao que escrevo, não é importante, basta que eu goste. Que eu goste de olhar lá para baixo e de escrever sobre esta gente”.
Escritor de bairro não será para levar à letra, mas digamos que Baptista Bastos é sobretudo um retratista ( a prová-lo se mais não houvesse a sua colaboração com Fernando Lopes no filme Belarmino). O problema aqui é que todos os retratos se parecem demasiado. Do passado que se evoca esboça-se uma paisagem de tonalidades sem contraste, apesar do tom que domina as crónicas, vagamente heróico, ser quase sempre temperado por pinceladas elegíacas.
André Gilde escreveu um dia, a François Mauriac:”É com bons sentimentos que se faz
má literatura”. Este livro é um exemplo de que ele tinha razão.
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