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Pai de Família e Outros Estudos
(Samuel Titan Júnior)

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O recado do moço

Escrito de 1966
a 1978, O Pai de Família reúne ensaios do jovem crítico
Roberto Schwarz que ainda convidam ao questionamento e à reflexão política e
estética

Volta e meia, ao repor em circulação um produto de outra
temporada, as editoras apelam a frases sobre a "permanência" das
obras "clássicas", sobre a qualidade "atemporal" deste
livro ou o caráter "definitivo" daquela tradução. Em contraste apenas
aparente com seu próprio andamento, que é de giro rápido e fôlego curto, o
mercado editorial faz o que pode para negar tanto o tempo entranhado nas obras
como os efeitos do tempo corrido sobre as mesmas, temendo que o datado seja,
por definição, obsoleto.

Nesse cenário, nada de mais inesperado e oportuno que o
relançamento dos ensaios de O Pai de Família e Outros Contos, de Roberto
Schwarz - 15 textos escritos entre 1966, portanto já sob a ditadura mas antes
do AI-5, e 1978, quando o autor retornou do exílio na França para um país às
vésperas da anistia e os reuniu num voluminho publicado pela editora Paz e
Terra.

De assunto muito variado, são todos eles rasgadamente
marcados pela hora em que foram concebidos, e uma leitura maldosa ou saudosista
não teria trabalho em colher termos e fórmulas de época. Ocorre que, aqui, a
datação é praticada como programa e corresponde ao empenho de submeter a
experiência estética à reflexão nutrida pela história contemporânea.

A experiência direta das obras é o ponto de partida, e vale
chamar atenção, em nosso tempo de muita teoria e pouca leitura, para o empenho
que Roberto Schwarz, leitor de Erich Auerbach e aluno de Antonio Candido,
dedica à descrição minuciosa de seus objetos, quer se trate de Kafka ou
Caetano.

Mas essa leitura detida não se esgota em si mesma:
justamente por revelar a densidade dos tempos e sentidos formalizados na obra,
ela remete o crítico à história. Não a uma história feita de períodos e
escolas, mas a uma história em curso, que forma um horizonte móvel, aberto,
capaz tanto de produzir uma surpresa como de passar uma rasteira no autor, no
leitor e, é claro, também no crítico. Conduzido assim, o ensaio crítico é menos
o lugar em que se fixa, de uma vez por todas, o sentido ou o lugar de uma obra,
e mais o registro de uma constelação móvel que vincula o leitor, a obra e o
tempo.

Assim, lidos em seqüência, os ensaios de O Pai de Família
(Companhia das Letras, 176 págs., R$ 39,50) não só evidenciam o amadurecimento
da prosa de Schwarz, como também vão marcando a temperatura variável da vida
brasileira por então.

Não será por acaso que os dois textos de 1966, quando o
golpe não parecia destinado a durar 20 anos e o socialismo não estava fora do
jogo, se interessam por figuras de um patriarcado em crise e vinculam, com
ressalva de todas as diferenças, um romance longo de Cyro dos Anjos, O
Amanuense Belmiro, e um conto breve de Kafka, A Tribulação de Um Pai de
Família.

Em contraste, o clima se altera e resfria no biênio de 1968
e 1970, quando os ensaios Nota Sobre Vanguarda e Conformismo e Cultura e
Política, 1964-1969 cuidam de notar tanto a ingenuidade cultural e política dos
anos anteriores ao golpe como a acomodação de vanguarda estética e conformismo
social na virada para a década de 1970. O resultado é uma série de indagações
embaraçosas para todos os envolvidos. A música de vanguarda de Júlio Medaglia
& Cia. trabalha para o fim da aura e do sujeito burguês (e portanto é
transformadora) ou meramente celebra a derrota geral diante do mercado (e
portanto é acomodatícia)? Quando sobe ao palco, o teatro brasileiro de
vanguarda faz jus à profissão de fé brechtiana ou termina por recorrer à
empatia (bem-pensante) com a platéia (pequeno-burguesa)? O tropicalismo de Gil
e Caetano expõe ou degusta os absurdos do atraso?

São perguntas embaraçosas, e são sobretudo perguntas
difíceis, que não se esgotam numa resposta unívoca pró ou contra e que mantêm,
muito tempo depois, seu poder de dar o que pensar - o próprio Caetano Veloso
sentiu-se obrigado a comentá-las, com inteligência, em mais de um trecho de Verdade
Tropical (1997). E é com elas que, dos remotos anos 70, O Pai de Família dá um
vertiginoso pulo do gato para este começo de século.

Pois, se é fácil rir das esperanças ou ilusões
revolucionárias de toda uma época e geração, e menos fácil rir do processo
geral de mercantilização geral da vida que desde então, no Brasil e no mundo,
foi tornando objetivamente "incerta" a "divisa entre
sensibilidade e oportunismo, entre crítica e integração" (pág. 91). E se,
uma vez esgotado o iconoclasmo pop ou tropicalista, tivermos ficado apenas com
a identificação total, na constituição da obra de arte, do "momento"
artístico e do "momento" mercantil (pág. 47)?



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