Silviano Santiago e Walter Mignolo - Pensamento liminar
(Silviano Santiago e Walter Mignolo)
O “pensamento liminar” na pós-modernidade.
A partir do final da década de 1960, um pensamento crítico que busca questionar certezas e modelos totalizantes tem se disseminado ao longo de globo. Entre os principais questionamentos às narrativas totalizadoras encontra-se aquele que contesta “abordagens que formulam uma compreensão da diferença tendo como referência um Outro exógeno, externo, procedimento que mantêm o princípio de uma unidade e coerência cultural interna (PISCITELLI, 2005, p. 55)”.
No processo de contestar perspectivas dicotômicas, ou mesmo maniqueístas, alguns pensadores tem se destacado ao refletir acerca da desconstrução de fronteiras rígidas, ao interrogar o modo como as identidades se constituem na liminaridade, a exemplo de Glória Anzaldua e a Consciência Mestiza (1987); Homi K. Bhabha e sua concepção de In Betweeness (2003); Walter Mignolo e o Pensamento ou Gnose Liminar (2003); e Silviano Santiago e a concepção de entre-lugar (1978).
Nesta resenha, ao levantarmos brevemente as características básicas das posições de Mignolo e Santiago quando ao diálogo entre o pensamento europeu e o latino-americano temos a pretensão, apenas, de traçar notas para reflexões futuras.
O pensamento liminar, para Walter Mignolo, é um espaço que surge do cruzamento entre culturas, sobretudo da cosmologia ameríndia com o pensamento crítico europeu. Mais especificamente um processo de tradução cultural, da cosmologia ameríndia por marxistas latino americanos e da cosmologia marxista para o pensamento ameríndio, efetivado tanto por intelectuais ameríndios quanto por intelectuais crioullos (MIGNOLLO, op. cit, p. 210). A interrelação entre cosmologias provocaria o florescimento de um pensamento liminar, ou daquilo que Mignollo denomina gnose liminar (op. cit, 221). O termo gnose parece trazer à luz uma ambigüidade intrínseca de tal forma de pensar liminar que paradoxalmente associa o misticismo ameríndio a um pensamento de formação racionalista europeu, o marxismo.
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SANTIAGO, SILVIANO. O entre-lugar do discurso latino americano. In: Por uma literatura nos trópicos:ensaios sobre dependência cultural. São Paulo: Perspectiva, 1979, p. 11-28.
PISCITELLI, Adriana. Reflexões em torno do gênero e feminismo. In: COSTA, Claudia Lima e SCHMIDT, Simone Pereira. Poéticas e Políticas feministas. Florianópolis: Ed. Mulheres, 2005, p. 43-66.
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