Uma CRÓNICA DE AMOR
(SOUSA FARIAS)
CRÓNICA DE AMOR.
O seu nome de baptizo era Miguel João Barros Pinto. Andou comigo na primária e lá na escola, a professora chamava-lhe o menino Miguel. A mãe chamava-lhe carinhosamente Miguelito.Ainda me lembro, estava o Miguel na terceira classe, no dia em que a professora lhe disse.:Menino Miguel, diga lá à mãezinha que eu amanhã quero cá a cédula.Eu, que andava na classe a seguir, ri-me para o Heliodoro, que era o meu colega de carteira, e disse-lhe:O Miguelito já está safo...A gente sabia que, pedir a cédula, era sinal de que a professora nos queria levar a exame.Revejo muitas vezes este quadro do Miguelito, com o seu bibe branco, muito sério, levantado no meio do corredor a dizer à professora, sim senhora professora, eu digo isso à minha mãe.O Miguelito, de quem continuo a ser muito amigo, está reformado do ensino superior, tendo sido professor primário, professor do ensino secundário e professor do ensino superior. Gostou da vida. Teve altos e baixos. No ensino secundário, quando era aluno, dominava a situação no recreio da escola, porque era bom na porrada e os moços da cidade não valiam nada para isso. Havia o Rodrigues de Olhão que lhe dava umas caldeiradas e outros mais, mas lá se ia safando. Mas tinha as pernas tortas e malta da escola chamavam-lhe agora o “arcado” e, como era assim um bocado montanheiro, não tinha muita saída com as miúdas..Apaixonou-se como os outros se apaixonaram, mas tinha dificuldades em declarar-se. Mas ia aos bailes e dançava com as raparigas. Uma vez, no baile dos Olhanenses, a filha do Marinho disse-lhe que queria namorar com ele, mas não gostou da ideia e não aceitou o convite. Tinha um bocado de igreja a mais dentro de si, quer dizer, tinha formação católica tal, que não o deixava entrar nesses esquemas.Mas a história que queria contar, passou-se quando o Miguelito frequentava a escola do Magistério Primário. Havia lá uma colega que lhe enchia as medidas. Alta, elegante, bonita, simpática, sorridente... tudo bom e o bom do Miguelito ainda chegou a acalentar algumas esperanças, porque nas aulas, a colega olhava às vezes para trás e o Miguelito entusiasmava-se todo, pensando que a “presa” estava no papo. O relacionamento era bom, a colega continuava a ser simpática e sorria.. para ele .. quando se voltava para trás.Mas um dia viu passar o Xico - um colega todo desempenado que ficava na secretaria atrás dele, mas também no enfiamento da linha, que vinha dos olhos da colega, passando a linha por ele, claro, Miguelito, que ficava entre os dois pólos – mais a colega que vinha dentro do carro dele, vindos de Quarteira e disse lá para com os seus botões, eh.. lá lá...e foi nesse momento que percebeu que a colega olhava para trás mas era para catrapiscar o Xico e não a ele, percebendo agora que estava equivocado e apenas na linha de visão..Ora bolas! Disse lá para ele...Fez o curso em 63 e adeus. Nunca mais a viu. Mas diz que vai encontrá-la. Logo que possa....
SOUSAFARIAS
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