Gazeta do Rio
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Tabaco é uma planta da família das solanáceas, chamada Nicotiana tabacum , nome dado em homenagem a Jean Nicot, embaixador francês em Portugal que acreditava que a planta tinha poderes medicinais e estimulou o seu cultivo. A fumaça do cigarro contém mais de 4000 elementos. Os mais importantes são a Nicotina, o Alcatrão e o Monóxido de Carbono. O Alcatrão é um produto liberado com a queima do cigarro, é cancerígeno e suas partículas causam obstrução das pequenas vias aéreas, causando o Enfisema e a Bronquite Crônica. O Monóxido de Carbono, produto da combustão, atinge rapidamente os alvéolos pulmonares e a circulação sangüínea, ocupando a Hemoglobina, ou seja, tomando o lugar do oxigênio no sangue. Cronicamente, o coração passa a ser mais solicitado devido à hipoxemia (redução do oxigênio no sangue), levando às complicações cardiovasculares. A Nicotina chega rapidamente ao cérebro, em tempo recorde em relação às outras drogas, e ocupa os receptores da acetilcolina, estimulando os neurônios a produzirem dopamina, que age na região do cérebro ligada ao prazer. Quem fuma um maço por dia tem essa sensação mais de 70 mil vezes por ano, coisa que nenhuma outra droga pode fazer. Ai onde reside o mito de que o cigarro acalma: na verdade a nicotina reduz a ansiedade causada por ela mesma, o que damos o nome de abstinência. Quem é viciado em heroína acalma-se rapidamente quando está ansioso pela droga e a consegue. O cigarro é excitante e não calmante; a sensação de calma, portanto, é mais um embuste da droga. A sensação da falta de nicotina produz ansiedade, irritação, nervosismo e incapacidade de concentrar-se; da mesma forma que ocorre com o viciado em crack, quando a nicotina entra em ação, a abstinência passa rapidamente.
Hábito é um padrão de conduta, ou de pensamento, que se repete e passa a ser incorporado à rotina da pessoa, que pode passar a agir automaticamente. Após alguns meses que se começa a fumar, o procedimentos ligados ao ato de fumar fixam-se aos atos rotineiros como o de se vestir, comer, beber e o cigarro então passa a fazer parte da vida do indivíduo. Todos resistem quando precisam mudar de emprego ou de residência, resistir às mudanças é inerente ao ser humano; somado a isso, há o fato da Nicotina induzir dependência. Ao hábito de fumar , então, une-se o vício, havendo então um componente psicológico e um componente orgânico, com o mesmo mecanismo que ocorre com a cocaína e com a heroína. Dr. Dráuzio Varela, em seu livro "Estação Carandiru", comenta que muitos presos abandonavam o crack e a maconha, mas não conseguiam abrir mão do fumo, o que tornava o cigarro moeda corrente no referido presídio, tal qual como o que ocorria em alguns países no século XVI.
Quando Colombo descobriu a América , o uso do tabaco já estava disseminado entre os índios da América do Norte. Os índios usavam as folhas em cachimbos e aspiravam a fumaça, tanto em ritos religiosos como em reuniões sociais. Assim os exploradores conheceram o tabaco e para suprir suas necessidades estabeleceram áreas de plantio na Europa, na América e até na África, entre os séculos XVI e XVII. Os portugueses levaram o tabaco para as Filipinas e para Polinésia, e os holandeses, para a África do Sul. A partir daí o vício de fumar espalhou-se , levando à criação de novas modalidades para o vício, como mascar ("fumo de rolo") e inalar o pó (rapé).
No finalzinho do século XIV o Rei inglês Jaime I propôs o banimento do tabaco, por julgá-lo "imoral", mas como haviam admiradores entre a nobreza, o ato de fumar acabou sendo ligado à distinção e elegância. As tentativas do Rei acabaram fazendo com que o tabaco subisse de preço, chegando a valer o peso em prata e aumentando o contrabando.
Em 1997 o "British Medical Journal" publicou uma pesquisa que analisou 6600 casos de pacientes com doença coronariana, chegando à conclusão que os não-fumantes têm 30% mais probabilidade de desenvolver doença coronariana quando são submetidos ao fumo passivo. Hoje existem milhares de artigos atestando os riscos do fumo passivo.
Em 2000 morre o jornalista brasileiro José Carlos Gomes, após amputar as duas pernas em conseqüência de vasculites e de apresentar derrame cerebral com paralisia das mãos.
Só em 27 de dezembro de 2000, o Congresso brasileiro aprovou o veto à propaganda de cigarros em TV, rádio, revistas, jornais, internet e estádios de futebol. A lei proibiu fumo em aviões e ônibus e a venda de cigarro em escolas e hospitais.
# Mesmo sem desejar, os índios pagaram com a mesma moeda aos homens que os dizimaram quando apresentaram as folhas de tabaco ao homem branco. O homem matou o índio, e o sangue índio foi vingado pelo cigarro, a principal causa de morte do homem moderno.
Referências Bibliográficas: (1); (3); (7) e (10)
Autora: Meire Gomes, médica.
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