A Hora da Estrela
(Clarice Lispector)
A Hora da Estrela narra a trajetória de Macabéia, uma nordestina que se mudou para o Rio de Janeiro, ao mesmo tempo que expõe as reflexões e angústias de seu narrador, o qual parece ser apenas um disfarce utilizado por Clarice para ela própria discorrer a respeito de suas inquietudes.
Formam-se no livro, então, dois mundos completamente distintos. Há um imenso contraste entre o narrador, que se questiona continuamente, e Macabéia, que apenas vive sem qualquer angústia existencial, que apenas “é”, sem ter a consciência do ser.
O narrador, às vezes, sente por Macabéia. Mais até que ela própria, que, como disse, não tem consciência de si mesma. Não tem consciência de seu sofrimento. Nós, leitores, veremos como é miserável sua vida, mas ela não. Parece, e isso, ressalte-se, é apenas uma opinião pessoal, que o narrador inveja um pouco sua inconsciência. Que ele, por vezes, gostaria muito de fugir de tantas indagações, e apenas existir. Apenas “ser”, como Macabéia é. Isso lhe pouparia de muito sofrimento. Talvez fosse lúcido demais.
Falemos, pois, da história de Macabéia. Nascida em Alagoas, perde seus pais na infância e é criada por uma tia beata. Muda-se para o Rio de Janeiro, onde divide um apartamento com quatro mulheres e começa a trabalhar como datilógrafa.
Feia, franzina, atrapalhada no único ofício que conseguiu. Mas nada disso era uma preocupação. Não pensava ser uma péssima funcionária. Ao contrário, ser datilógrafa dava-lhe um pouco de dignidade.
Seus prazeres são simples. Um deles é o de tomar um pouco de café frio antes de dormir. Porém, até tal prazer tem um preço: a azia. Isso mostra que nada para ela é fácil, ou gratuito. Nada pode ser fácil. Como se não merecesse.
Gostava também de ouvir rádio. E pensava como usaria as informações que ouvia. Talvez nunca.
Penso que Macabéia tinha, sim, um pouco de consciência de si. Não são todas as suas atitudes que são mecanizadas. Nem todas condizem com seu pensamento de que era feliz porque tinha a obrigação de o ser. Ao permitir-se, quando tinha dinheiro, comprar-lhe uma flor não parece ser um ato de conformismo total. Algumas vezes, mas poucas, Macabéia permitiu-se sair de sua miserável realidade. E, se o fez, foi pela pouca consciência de que era miserável.
Certo dia Macabéia conheceu aquele que viria a ser seu namorado, Olímpico. Rapaz ambicioso, começou a relacionar-se com ela talvez apenas porque fora-lhe ensinado a “pegar mulher”. De qualquer forma, tratava-a de forma extremamente rude. E Macabéia, por sua falta de percepção de si mesma, acreditava em sua pequenez em relação ao namorado. E desculpava-se.
Macabéia era através dos outros. Olímpico era seu contato com o mundo. Temos noção de que se orgulhava um pouco de seu ofício, por exemplo, quando pensou nela e no namorado como um casal de “metalúrgico e operária”.
Ocorre, porém, que Olímpico abandona-a para ficar com Glória, colega de trabalho de Macabéia. Somente aqui Macabéia, pela primeira vez, sente um pequeno desespero, e procura uma cartomante para ver seu futuro.
Agora, um momento, diga-se, epifânico. A cartomante vê a vida de Macabéia nas cartas. E, vendo outra pessoa narrar os fatos de sua vida, vendo a pena que desperta nos outros, Macabéia começa a ter contato com sua miserabilidade. Começa a sofrer por tudo que já viveu.
A cartomante, após despertar em Macabéia tamanha comoção pelo passado, vislumbra um futuro brilhante. O sofrimento transforma-se em excitação. Macabéia, pela primeira vez, sente. Vê a si mesma.
Mas o estado de glória dura pouco. Ao sair da casa da cartomante, ela é atropelada. E morre.
Pode não ter morrido feliz, pois a felicidade não acompanha a consciência. Morreu apenas sabendo que era.
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