Boca QUE SOPRA QUENTE E FRIO-FÁBULAS
(LA FONTAINE)
Em boca que sopra quente e frio, eu não me fio. Conta Esopo e La Fontaine reconta. Era uma vez duas raposas que estavam viajando juntas. A mais velha ia mostrando coisas que a mais nova não sabia. Mostrou hábitos dos cães e das galinhas, dos homens e dos lobos e como aproveitar-se de tudo isso. Chegando em casa ainda mostrou como fazer um bom caldo de galinha. E ainda explicou enquanto cozia uma gorda galinha porque é que caldo de galinha e cautela nunca fazem mal. Vai desfiando sua sabedoria e vê que a mais nova está esperando o caldo esfriar. A Sabida pega a colher cheia e assopra "para esfriar"... A mais nova aprende e repete. Vai passando a noite e é uma noite "gelaaaada". Lá pelas tantas vê que sua mestra está assoprando as mãos com o bafo da boca e pergunta: Mas a senhora está assoprando as mãos geladas, para quê? "Para que fiquem quentes", responde ela. A mais nova já estava bastante escolada e saíu de fininho de manhã cedo para sua casa. Contou o ocorrido à sua mãe e perguntou: Podemos soprar frio e quente pela mesma boca? "Está aí, minha filha! Muito cuidado com essas pessoas que assopram pela mesma boca quente e frio! Em tais pessoas, diz a cautela das raposas, eu não me fio..." A mais nova observa: Pelo que vejo, nós as raposas podemos fazer isso, né? É claro que o fabulista não precisa ser Fedro para explicar que se trata de falar ora uma coisa (por exemplo "quente") e ora outra ao contrário no mesmo assunto... precisa explicar? Porém, quantas vezes nossos governantes fazem isso e seus fanáticos e cegos súditos se fiam!
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