Eles não sabem o que fazem: o sublime objeto da ideologia
(Slavoj Zizek)
Este livro de Zizek se dedica a estabelecer as condições de uma teoria e de uma prática interpretativa da ideologia, entendida aqui como fenômeno psicossocial de "falsa consciência" e ilusão, que, no entanto, constitui uma ordem simbólica que estrutura percepção da realidade pelo indivíduo. O campo sobre o qual Zizek alcança é precisamente a complexa conexão entre o mental e o social, analisadas pelo autor com um método próprio e referência intelectual extremamente eclética: estruturalismo, Teoria Crítica, marxismo, psicanálise, filosofia clássica alemã. O seu ponto de partida é o estudo das ideologias totalitárias, legitimadoras da dominação social; seu interesse se divide em quatro ideologias: a liberal, a nazifascista, a stalinista e a pós-moderna. Além da clássica divisão entre estruturas econômicas e culturais da sociedade, Zizek também recorre à topologia freudiana do Ego, superego e id, e a conexão que ele procura estaria no superego, internalização das normas sociais que reprimem os impulsos naturais do homem, e a ideologia aparece como formação superegótica, correlacionada a um sistema de representações ilusórias a respeito da vida real dos indivíduos. O autor se dedica a um extenso comentário de teorias nas quais ele se baseia para construir o seu pensamento, de modo que o livro, além de psicologia e sociologia, apresenta um interesse para a área de história das idéias. Para começar, após citar a definição de Marx para a função histórica da ideologia, "eles não sabem o que fazem, mas fazem", Zizek passa para uma crítica do "revisionismo" psicanalítico, que produziu a psicanálise "humanista", "existencial","culturalista", subordinando a teoria à terapia (e com isso enfraquecendo ambas) psicológicas, corrente cujo maior representante é Erich Fromm, cuja "definição de homem" é criticada por Zizek. Este, então comenta dois momentos de "retorno a Freud", a da Escola de Frankfurt (Benjamin, Horkheimer, Adorno, Marcuse), em especial Adorno, visto pelo autor como o maior pensador deste grupo. Após pôr a Escola de Frankfurt em uma balança, avaliando os prós e contras, Zizek comenta um outro "retorno a Freud", o de Jacques Lacan, com o qual traça paralelos na obra de Hegel. Zizek então se dedica a uma análise das quatro ideologias classificadas, nas quais ele analisa as funções de repressão, falseamente e controle social de modos diversos, demonstrando que, apesar de serem muito diferentes uns dos outros, liberalismo, nazisfascismo, stalinismo e pós-modernismo são igualmente condenáveis após uma análise crítica minuciosa. O liberalismo representaria o sujeito clássico da teoria freudiana, o neurótico reprimido, rígido e individualista; o nazifascismo representaria a psicose em sua forma mais extrema, na qual o indivíduo é plenamente "dessubjetivado", e todas as normas sociais são voltadas ao rituais de obediência e sacrifício, dos grandes comícios da elite nazista às guerras e massacres, e, ao mesmo tempo, é demonstrada verdadeira razão do ódio anti-semita dos nazistas: eles estão apaixonados por aqueles que eles pensam desprezar; o stalinismo, por sua vez, é um indivíduo auto-anulado, que se concebe como um instrumento de realização de supostas "leis da história", que legitimam a sua ação autoritária e até converte os que são perseguidos e reprimidos à esta ideologia; por fim, o pós-modernismo é um sujeito que regride a um superego mais primitivo que o superego paterno do liberal neurótico, ao superego materno, cuja lei não é "tu deves! tu não deves!", mas sim "tu podes, sejais bem-sucedido e poderoso!". A análise zizekiana é exemplificada pelo autor com inúmeros acontecimentos históricos e análises de obras cinematográficas hoolywoodianas, livros best-sellers, e outros bens culturais massificados da indústria de mídia, demonstrando como a interpretação destes bens, mesmo quando se admite a sua péssima qualidade e a mesquinez baixa que motiva a sua fabricação, é uma forma de compreender a cultura contemporânea.
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