A escrava Isaura
(Berbardo Guimarães)
Relatada em terceira pessoa, sua história é didaticamente conduzida por um narrador meticuloso, que, pródigo em informações, faz questão de fornecer dados que situam o leitor com relação à época em que se dão os episódios narrados, enquanto explicita os cenários em que estes ocorrem.
A afirmação que abre o romance: "Era nos primeiros anos do reinado do senhor Dom Pedro II" dá conta de uma precisão temporal não muito costumeira em textos românticos mais afeitos ao uso de um mascarmaneto cronológico, assinalado pelo uso de reticências.
o fio dos acontecimentos só começará a fluir, porém, após a inserção das personagens em seu local de atuação: a princípio uma bela fazenda no município de Campos, Rio de Janeiro, minuciosamente descrita no capítulo de abertura da obra.
A topografia da casa reproduz a mecânica das relações sociais da época a medida em que expulsa para os fundos do imóvel compartilhamentos ou áreas destinadas a escravos e animais, o que é uma forma de equipará-los.
A exceção neste particular é Isaura que convive estreitamente com os senhores: Leôncio e Malvina, os quais cumprem desta maneira uma disposição sentimental da mãe de Leôncio, muito apegada à escrava.
Isto proporcionou-lhe esmerada educação e assim não fica incongruente, entre outros refinamentos, sua sensibilidade para a música e o piano em particular.
Além do mais, Isaura, apesar de cativa, não revelava traços fisonômicos da raça negra.
é justamente sua beleza deslumbrante que irá desencadear uma paixão obsessiva em seu senhor o qual usará de todos os artifícios na tentativa de atrí-la, o que será mostrado nos nove capítulos iniciais do romance vividos em Campos.
O retorno ao passado é largamente empregado e a partir dele o leitor é informado do péssimo caráter de Leôncio, o que de certo modo é atávico.
De maneira geral o texto obedece a um esquema binário de caracterização moral das personagens, havendo lugar quase que exclusivamente para qualidades extremas, do ponto de vista do bem ou do mal.
Embora a uma primeira leitura esse atavismo de Leôncio possa remeter ao determinismo genético que viria com o Realismo/Naturalismo, o certo é que no presente texto ele vai funcionar como reforço à tendência romântica da caracterização das personagens por meio de estereótipos.
Sendo ainda mais a história contada do ponto de vista da personagem-título, consolida-se o modelo maniqueísta, estando o bem representado por Isaura e seus protetores e o mal, por Leôncio e os que o auxiliam.
Observe-se a propósito o discurso do narrador que não disfarça a simpatia com relação à escrava, o que é perceptível pelo tom inflamado com que suspende o fio narrativo para comover-se e comover o leitor.
Atente-se na passagem para o emprego de adjetivos de base expressiva e ainda a ênfase das exclamações, bem como o sentido de perenidade dos advérbios e locuções adverbiais que denotam a constância de seu sofrimento.
Na abertura do capitulo VIII vê-se mais uma vez a falta de isenção do narrador na condução dos fatos, através do discurso ligado à comoção no caso de Isaura e a à condenção quando se trata de Leôncio que, em um momento posterior da história, chega a ser chamado de Lusbel, figura demoníaca. o sentido de comoção é tão perceptível no texto que em algumas ocasiões opta-se pela omissão de determinadas cenas tal como visto no capitulo VIII e também no capítulo XVIII.
No caso de Isaura, já foi mencionada a beleza física fora do comum. alia-se a isto uma grandeza de caráter.
Na linguagem verifica-se um substrato imagético o mais das vezes positivo; as comparações em A Escrava Isaura não fogem ao esquema dual próprio do Romantismo.
É possível identificar o cacoete romântico da mescla de qualidades conflitantes, o que no presente romance pode ser verificado até com relaçao à protagonista, exatamente por ocasião do anúncio do pretenso casamento.
No capiítulo IX a XIX, o leitor aompanha a viagem de Isaura ao Norte e sua permanência em Recife, atitude radical tomada como única forma de fugir às investidas de Leôncio.
Também aí a beleza de Isaura vai ser a causadora de seu próprio sofrimento: despertando o amor de Álvaro termina por expor-se à sociedade recifense provocando inveja entre as moças casadoiras para quem Álvaro representava a realização via matrimônio.
Ressalta-se novamente a importância concedida ao casamento dentro do projeto burguês de realização pessoal, aspecto encarecido pelo Romantismo.
Em virtude de morarem em um bairro afastado da cidade, os dois fugitivos eram alvo de toda sorte de desconficanças.
Um dos pontos mais destacados da fração da narrativa relativa a Recife é a cena do baile para o qual Álvaro convida Elvira e Anselmo, ou seja, Isaura e Miguel, como é perfeitamente depreensível no texto, mas que o narrador faz questão de explicitar para o leitor.
O baile também refletirá os hábitos do Brasil imperial no que diz respeito ao comportamento da classe burguesa.
Martinho reunirá condições de delatar Isaura em função da descoberta de um anúncio buscanso uma escrava fugida. Álvaro empenha-se com vigor na luta anti-escrevocrata, tendo em vista a paixão por Isaura.
Os trechos finais do livro, de acordo com o romantismo, narram a execração de Leôncio junto à família e demais pessoas presentes na ocasião de seu desmascaramento por Álvaro, a ponto de, em mais um gesto de desatino, ele optar pelo suícidio, principalmente para não ter que se valer da benevolência de Isaura, que, apesar de tudo, não lhe nega o perdão.
Resumos Relacionados
- A Escrava Isaura
- A Escrava Isaura
- A Escrava Isaura
- A Escrava Isaura
- A Escrava Isaura
|
|