A modernidade em Rubens Figueiredo
(Rubens Figueiredo)
Logo que se inicia a leitura do livro de contos de Rubens Figueiredo – As palavras secretas (Companhia das letras, 1998) -, deparamo-nos com uma modalidade de escrita perfeitamente em consonância com a contemporaneidade da ficção brasileira. Ao afirmar isso, pretendo dar autenticidade a este escritor, que ultrapassa a barreira do continuísmo modernista tão propalado desde a última fase deste, e estabelece uma narração voltada para a fragmentação do indivíduo contemporâneo. É de maneira irretocável que a contemporaneidade em Rubens Figueiredo acontece nas linhas dos seus contos em “As palavras secretas”. Melhor seria dizer nas entrelinhas, pois todo o texto está vulnerável, ainda que não decifrável de forma segura, aos anseios de leitores mais atentos. Seria impensável ler este livro buscando ações premeditadas que nos levem a um desfecho esperado. Pelo contrário: justamente por meio das ações dos personagens, não há vias definidas, mas sim possíveis, já que o ambiente espaço-temporal não está nunca acabado. Isso quer dizer que o rumo das ações dos personagens não está ligado a esse ambiente, porque toda moldura que caracteriza a realidade está diluída. Dessa forma, ao final da narrativa, o próprio cotidiano terá sido alterado juntamente com os personagens.
Tratemos aqui de como o autor consegue o efeito de uma realidade difusa. Para tal, é necessário que as descrições sejam não apenas supérfluas, mas com alto grau de personificação. Assim, todo o ambiente que envolve uma personagem estará carregado de movimento em um nível absolutamente metaforizado. A alegoria é o invólucro necessário a uma concepção de mundo em que suas amarras não são, ou estão, firmes, como meio de possibilitar o trânsito de ações ocultas que estão minimizadas diante de uma sociedade falsamente coletiva.
A questão, agora, torna-se mais clara: o conflito entre um anseio coletivo, pautado em uma ideologia de massa, e uma necessidade de individualização interior, como meio paradoxal de defesa contra essa própria coletivização, favorece o estranhamento e discussão da fragmentação humana dentro da sociedade atual. O confronto entre esses opostos contamina o texto, e o resultado é uma ambigüidade do cotidiano que, por estar aberto, permite às várias possibilidades, aos vários caminhos uma existência real. É, pois, dentro desse estranhamento do cotidiano que o autor comprova sua habilidade de desconstruir o ambiente de forma a misturá-lo aos fragmentos das personagens. O que daí resulta é um texto enigmático de caráter fantástico, no qual o leitor vai se prender por conta de tentar achar-se.
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