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Eu sei que vou te amar - uma análise semiótica
(Vinícius de Moraes e Antônio Carlos Jobim)

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Alunos e professores dos cursos de letras acostumamo-nos a, durante o nosso curso, estudar, praticar e produzir análises de obras literárias, buscando entender e descobrir as intenções dos autores e de como eles construíram suas obras. Aqui, vamos tentar entender o que Vinícius de Morais e Tom Jobim intencionaram fazer e tentaremos descrever como o compositor usou a linguagem musical para produzir um determinado efeito. Veremos que a boa música, assim como o bom texto, estão livres da superficialidade não intencional que marcam as obras feitas a partir de uma falta de reflexão e de interesse em querer dizer algo um pouco mais profundo do que simplesmente tocar os nossos sentimentos.
Essa canção foi escolhida por ser de grande domínio público. Para aqueles que não a conhecem, e mesmo para os que a têm em seu ouvido interior, proponho que a ouçam após a leitura deste texto, ou até mesmo acompanhem a leitura ao som da música.
De início, eis o poema:
Eu sei que vou te amar,
Por toda a minha vida eu vou te amar,
A cada despedida, eu vou te amar,
Desesperadamente, eu sei que vou te amar.

E cada verso meu será
Pra te dizer, que eu sei que vou te amar,
Por toda a minha vida.

Eu sei que vou chorar,
A cada ausência tua eu vou chorar,
Mas cada volta tua há de apagar
O que essa tua ausência me causou.

Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
À espera de viver ao lado teu,
Por toda a minha vida.
Na primeira estrofe, o poeta se utiliza da repetição da frase “eu sei que vou te amar”, como forma de afirmar sua certeza. Nas frases seguintes a essa primeira, o poeta utiliza a elipse dos termos “sei que”. Amará: por toda sua vida, em cada despedida e de forma desesperada, no sentido de total dedicação. A melodia que acompanha esses versos se baseia nisso: repetição e afirmação. A cada dizer da frase principal (eu vou te amar) as notas são, também, repetidas como algo imutável, definitivo. Mas não é só isso; as frases se repetem (melodicamente falando) mudando de escala a cada verso da estrofe. Isso causa o efeito de uma afirmação incontestável, sempre crescente.
As estruturas das frases, em sílabas poéticas são: 6-10-10-12. A estrutura de notas musicais acompanha esse desenho, e a altura da frase musical também se eleva a cada descrição do texto.
A segunda estrofe se caracteriza, musicalmente, por uma onda lírica. O compasso é quaternário, isto é, quatro tempos de pulsação. O compositor se utilizou de uma nota longa de três tempos de pulsação e um acento tônica na quarta. Assim: ca (123) da(4), ver(123) so(4) meu(123) se(4) rá(123) prá(4) te(123) di(4) zer(4), e ,então, novamente a repetição de notas juntamente com as frases eu sei que vou te amar/por toda a minha vida. Essa divisão rítmica proporciona um efeito bastante nítido de flutuação, reforçado pela linha melódica, que desce e sobe e que o leitor pode observar ao ouvir a peça. O lirismo aqui impera e o coração pulsa de amor
Do mesmo modo, como na primeira estrofe, a terceira possui a mesma estrutura. Os versos agora se referem ao sofrimento de amor; mas se no início o sentimento é marcado através da afirmação figurada na repetição das palavras “eu vou te amar”. Aqui, as palavras variam: “eu vou chorar” (2 vezes), “ eu vou sofrer” e “ausência me causou”; porém, a certeza ainda está mantida na repetição das notas. Assim, o compositor mistura, em essência, as estruturas frasais literárias e musicais nesta segunda estrofe: a certeza é pontuada pelas notas repetidas e a flutuação musical contida na segunda estrofe é, agora, a essência dos versos com as idas e vindas do amor.
O movimento cíclico é reiterado com a conclusão do poema, segundo a estrutura da estrofe final. Se no início a afirmação é algo crescente, algo sobre um sentimento que se eleva; aqui, no final, o movimento é contrário: o caminho melódico agora é de cima para baixo; do céu para o inferno; com a certeza de que o sofrimento de amor será eterno e culmina com a palavra “vida” ocupando todos os quatro tempos de pulsação (2 vezes), metaforizando a eternidade.
A ausência de modulações (mudanças de tons) bruscas dá à música um molde compacto. Apesar de o poema se referir aos opostos amar / não ser amado, essa oposição não se baseia em alterações de estado d’alma. Baseia-se, sim, em algo único, em algo gigantesco, em um amor indestrutível, em um amor auto-suficiente, que regenera em si mesmo. Por assim dizer, a peça mostra total equilíbrio e se mantém pela sua simplicidade (algo que não é fácil de produzir). O simples aqui não é, absolutamente, falta de genialidade, nem falta de inspiração; é, antes de tudo, consciência de limites exatos que valorizam algo prosaico e belo.



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