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Noite
(Paulo Bonfim)

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"Noite" (Nave noite/ navio de ningúem/ porto de mastros/astros e portas/ comportas e fugas/ rugas que sangram/angra secretas/ eretas e milhas/ quilhas sem sol/ sombra de sal/ céu de silêncio/ selva sem som/ ceia de sono/ travessa em travesseiro/ treva de nau/ nada nadando/ noite naufrágio.)
Analisar textos literários não é tarefa simples, já que não se busca compreender o que disse o autor/narrador, mas justamente o que ele deixou de dizer ou o fez de forma implícita. Quando o assunto é poesia, a tarefa é ainda mais árdua, pois neste gênero, principalmente entre os artistas modernos, não temos ordem, lógica ou qualquer ponto de apoio fixo; é que a poesia está mais para o caos do que para o cronológico (ordem).
Não é intenção afirmar que poesia seja um emaranhado de idéias sem conexão e/ou sentido. Nada disso. O que ocorre é que o artista encontra na metáfora – e como se utilizam da metáfora! – uma forma de dar vida ao seu mundo interior, cabendo ao leitor crítico perceber que formas o “eu-poético” utilizou para criar esse sentido e, a partir daí, encontrar o motivo de ser da poesia.
É em razão desta liberdade de expressão proporcionada pela poesia que dificilmente pode-se dizer: há uma única interpretação para o poema. Acontece que cada leitor, segundo sua bagagem e percepção crítica, compreende uma poesia a sua maneira. Não se deve tirar do leitor esta liberdade porque é justamente esta possibilidade de inúmeras interpretações que denotam se uma poesia é realmente boa ou não. Quanto mais interpretações possíveis, mais são os méritos do autor.
A poesia do paulista Paulo Bomfim intitulada “Noite” é uma das provas vivas de que em poesia vale mais a intuição do que a lógica e a coerência. Sua poesia é marcadamente metafórica. Seu estilo é curto, despojado e simbólico. A composição deste poma é a partir de recortes sobrepostos para intensificar a intenção principal que é, a meu ver, a expressão de um sonho do qual o “eu-poético” não sai vitorioso.
Para expressar a agonia interior diante do caos que se instaurara, o “eu-poético” joga com o poder metafórico das frases juntamente com a potência simbólica das palavras-chave: noite, sangram, naufrágio.
O poema foi todo construído a partir da idéia de navegação que é uma metáfora do viver, ações realizadas ao longo da existência. E nesta passagem há a noite, o momento da experiência desagradável mesmo que tenha procurado proteger seu sonho na nave – símbolo de força e segurança na travessia, quer marítima ou espacial.
Não há um porto seguro nesta travessia, já que estes são “porto de mastros” e os mastros sustentam velas que movem os navios, por conseguinte não ficam em um mesmo lugar, daí que não possa ser porto na concepção usual de amparo, de segurança. 
Os “astros e portas” se assemelham ao convite ao sonho que pode ser a fonte causadora do problema, algo aparentemente muito bom, uma vez que astros são a representação da perfeição e transcendência e “portas” é passagem, mas que teria se transformado em pesadelo. Pode ser também que “astros e portas” sejam, neste caso, um convite à transcendência, à superação do pesadelo vivido resultante, provavelmente, das limitações do humano.
O “eu-poético” parece se sentir só, isolado do mundo: “angras secretas”, “quilhas sem sol”, “selva sem som”. Angras são baías voltadas para o oceano; quilhas é uma parte essencial do navio que fica no casco e por isto desprovida de calor do sol, aqui subentendido como calor humano e/ou discernimento; e selva que é normalmente um lugar de inúmeros sons aqui não tem voz e tudo é envolvido por um “céu de silêncio”. Estes pressupostos nos levam a acreditar que o poeta se sente só e sem voz para exprimir-se.
Como quem dorme e se alimenta deste estado de paralisação “ceia de sono” sem ação para concretizar a travessia em “travessa em travesseiro” e “nada nadando”. Se não tem atitude para superar o problema instaurado, se não é capaz de transcender á “treva de nau” o resultado final é “noite naufrágio”, a entrega total as forças opressoras, a desistência do tão ‘sonhado sonho’.
“Noite” é, em suma, a exemplificação de uma travessia mal sucedida apesar das precauções. É uma amostra pulsante de sonhos que não se concretizam e se perdem ao longo da sua busca.



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