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Teoria do Medalhão
(Machado de Assis)

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-         Não consigo dormir, que horas são?
-         São 11:00
-         Filho, já que os convidados desta festa sua de vinte e um anos de idade já foram para casa, poderíamos trocar algumas idéias. O teu futuro é amplo e grandioso, pode dedicar-se ao parlamento; à magistratura; à imprensa; à lavoura; à indústria; ao comércio; às letras ou às artes.
-         Acho que estás certo.
-         É necessário porém, que se vincule a um ofício que o traga reconhecimento, e prestígio. E que lhe valha algo, se todo o resto falhar. È o que lhe digo: A Teoria do Medalhão: Possui a pobreza mental necessária. Prefira a forma ao conteúdo. Reduza-se ao comum. Tenha um vocabulário simples. Use de interjeições consagradas pelo uso, para reler o pensado, por exemplo: Ao falhar o efeito de uma lei, todo um conjunto de análise se faz quase naturalmente, e que exige um esforço grandioso para ajustar-se. Pode um Medalhão resolver o problema simplesmente com uma frase: Antes das leis, reformemos os costumes!
-         E quanto às possibilidades do moderno?
-         Traga perto de si toda a terminologia científica de tua época. Utilize-a de forma pragmática, não com devaneios de poeta clássico. Vincule o seu nome às atividades cotidianas, e faça com que seu nome seja ligado à sua pessoa. Se algum grupo da sociedade trouxer-lhe em casa um retrato, aceite-o prontamente, podendo até escrever um pequeno discurso sobre a reunião, e incumbir a autoria, por simples escrúpulo, a algum amigo ou familiar.
-         E tudo isso que me dizes não restringe uma outra atividade?
-         Não.
-         Nem política?
-         Nem política. Pode associar-se a qualquer partido desde que não ligue nenhuma idéia especial à própria definição que os nomes do mundo da política já trazem em si.
-         Se tornar-me político, posso ir à tribuna?
-         Sem dúvida, mas prefere a metafísica política, que apaixona partidos e eleitores, e já se apresenta acabada, totalmente destilada, como um baú de memória.
-         E sobre a imaginação?
-         Nenhuma.
-         E filosofia?
-         A expressão: “Filosofia da história”. Deve utiliza-la sempre que a situação tornar necessária. Porém, nunca traga nada de novo, de inédito, de original.
-         E quanto ao riso?
-         Pode sentir-se à vontade a sua natureza do bom humor. Prefira a brincadeira vulgar à ironia – nunca use da ironia. Que horas são?
-         Meia-noite.
-         Vamos dormir então, já entras nos vinte e dois anos. Guarde essa conversa pelo seu valor – salvas as proporções espelhamos em nossas palavras um Príncipe de Maquiavel.



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