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Precarização do Trabalho Docente na Universidade
(Antônio de Pádua Bosi; Marcelo Badaró Mattos)

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Analisaremos algumas das situações precárias do trabalho docente na universidade com a finalidade de conscientizar as pessoas do atual cenário que vivem estes profissionais e provocar uma reflexão a respeito.
Os docentes, geralmente os pesquisadores, precisam de verbas para suprir necessidades dos projetos de pesquisa em que atuam, como também para custear atividades relacionadas. Porém, não há um órgão competente para assumir tal responsabilidade, recaindo toda sobre o docente, que além de cientista deve figurar também como “corretor de valores”, emprenhando-se até o limite de suas forças. Vejamos o que observa Rogério Guerra, membro do departamento de Psicologia da UFSC, sobre este assunto:
(...) Antes, os profissionais deveriam recorrer aos almoxarifados das instituições para obter itens necessários ao seu trabalho, como papel para impressão de textos, canetas, material de limpeza ou itens mais específicos, como álcool, éter, reagentes e vidrarias. Atualmente, os profissionais devem elaborar projetos de pesquisa ou de extensão universitária para o aparelhamento institucional (Guerra, 2005, p. 8).
Embora seja difícil acreditar, os professores universitários sempre tiveram algumas dificuldades para reconhecerem-se como trabalhadores assalariados. Em alguns casos, isto se deve por classificarem-se como trabalhadores pertencentes à etérea categoria dos profissionais liberais, contudo, seja por qual for o motivo, este comportamento figura-se como uma degradação das relações específicas de trabalho em que se inserem, como também uma regressão enfrentada pelo conjunto da classe trabalhadora.
Do mesmo modo, não podemos deixar de observar e questionar o método de avaliação pelo qual os professores estão submetidos. Tal avaliação não é mensurada por critérios acadêmicos clássicos, como idealmente deveria ser, mas sim por indicadores de produtividade, os quais se derivam da lógica gerencial privada. Além disso, no ano de 1998, foi instituído pelo governo FHC a Gratificação de Estímulo à Docência (GED), a qual proporciona um sentido remuneratório para as universidades federais, apresentando variação segundo critérios de produtividade definidos pelo governo. Apesar desta ser uma “generosa” proposta do governo, a sua adesão faz com que a função dos professores possa ser equiparada com a de trabalhadores manuais, medindo e renumerando a qualidade do trabalho pela quantidade de artefatos produzidos, como artigos, livros, projetos, patentes, aulas ou papers. Seguindo essa idéia de produtividade, os professores são, praticamente, obrigados a focar suas atividades na produção demasiada de conteúdo, deixando um pouco de lado uma característica primordial, a qualidade. Em contrapartida, isto não significa que nenhuma produção será de qualidade, de forma alguma, a idéia que está sendo apresentada neste texto é que o objetivo principal dos professores será empregado na quantidade, restando uma parcela reduzida de atenção para a qualidade, talvez devido à grande carga de trabalho e pouco tempo disponível.
Como se já não bastasse a imensa carga de trabalho atribuída aos docentes, as universidades públicas aumentam o ingresso de estudantes, em alguns casos, sem provimento de concursos públicos para suprir a quantidade de vagas oferecidas. Este cenário favorece uma série de problemáticas, tais como salas superlotadas, aumento da carga horária e da exploração sobre a força do trabalho docente e avaliações mais exigentes para comprovar a produtividade. Para confirmar o exposto, vejamos o que diz Marilena Chauí:
(...) o aumento insano de horas-aula, a diminuição do tempo para mestrados e doutorados, a avaliação pela quantidade de publicações, colóquios e congressos, a multiplicação de comissões e relatórios etc. virada para seu próprio umbigo, mas sem saber onde este se encontra, a universidade operacional opera e por isso mesmo não age (Chauí, 1999, p. 3).
É importante ressaltar que esta condição a que os docentes estão submetidos pode acarretar vários problemas de saúde para essa classe profissional, dentre os quais se encontram a depressão, o estresse e o estado permanente de cansaço. Em casos extremos, já houve incidência até de suicídio.
Os fatores apresentados até agora não transparecem toda a realidade vivida pelos docentes na universidade, mas são suficientes para nos fazer refletir sobre o tema proposto: Precarização do trabalho docente na universidade. A cada dia que passa, a precarização mencionada vai tomando maiores proporções e nenhum órgão ou poder se habilita a mudar esta situação, seja por motivos políticos, econômicos, sociais ou até mesmo pela inobservância ou desinteresse pelo setor educacional. Ao invés disso, eles criam novas maneiras de contribuir com tal cenário. Neste momento, vários questionamentos e preocupações podem vir à tona. Se a situação continuar dessa forma, como serão os profissionais de amanhã? Os docentes serão capazes de gerenciar essa ampla carga de trabalho de forma eficaz, sem prejuízos? Em face às ameaças de privatização, até quando as universidades públicas permanecerão em atividade? Até quando poderemos sobreviver à precarização do trabalho docente na universidade? Infelizmente, não temos respostas para nenhuma destas perguntas, entretanto, não podemos cruzar os braços diante dessa polêmica e permitir que ela tome grandes proporções. Este é um momento em que devemos parar para refletirmos e perguntarmos qual é o papel que assumimos diante dessa situação. Ao invés de indagarmos: O que temos a ver com isso? Devemos perguntar: Em que podemos contribuir para mudar este cenário? Uma das alternativas que temos é, coletivamente, colhermos críticas e sugestões plausíveis e bem analisadas para que, com este ponto de partida, possamos fazer planejamentos e tomar as medidas cabíveis.



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