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O Segredo do Bonzo
(Machado de Assis)

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Capítulo Inédito de Fernão Mendes Pinto

Acontecera na cidade de Fuchéu, capital do reino de Bungo, em 1552.
            Andando com Diogo Meireles vimos um homem que dissertava em uma esquina, com cerca de cem ouvintes, sobre a origem dos grilos: um efeito do ar , das folhas de coqueiro, na conjução da lua nova. Seu nome era Patimau, e falava da necessidade de ser matemático, físico e filosofo, para entendê-lo totalmente. E, ainda, que poderia morrer defendendo sua idéia. O homem fora ovacionado pelos que o escutavam. Levaram-no a um mercado e lhe deram refrescos, fizeram saudações. Isto em nome da cidade da qual era filho, Fuchéu.
             Continuarmo-nos a caminhar, e alguns metros depois, vimos cena muito parecida. Outro homem, e outra pequena multidão. Desta falava-se do princípio da vida futura, que nada mais era que uma certa gota de sangue de vaca. E que o orador nada mais queria do que honrar sua cidade com tal fruto e eloqüência de seu espírito. Da mesma forma foi levado ao mercado, sendo carregado pelos ouvintes. Seu nome era Languru.
            Ao andarmos um pouco mais à frente encontramos Titané, alpercateiro, que ao ouvir-nos disse que tais oradores poderiam estar relacionados com o nova teoria de um bonzo muito sábio, e que nos levaria a conhecê-lo no dia seguinte. Advertiu que o bonzo só referia-se a doutrina àqueles que sentia tornariam-se credos.
            Pomada, ancião sábio de cento e oito anos falou-nos de sua doutrina. Acontecera por inspiração da pedra da lua. Minério com tal brilho que posta no alto de uma montanha, ou torre, iluminaria toda uma campina. Especulava que o entendimento varia em torno de dois aspectos: existir na realidade e na opinião, mas que de forma definitiva e permanente, existir na opinião é que era o aspecto decisivo.
            Os três, agora, pomadistas, resolvemos colocar em prática idéia tão magnífica.
            Titané utilizando um papel, chamado “ Vida e claridade das cousas mundanas ” começou a promover suas alpercatas. Estórias a lançavam às maiores alturas, mas ele era apenas um obreiro do reino de Bungo, de tal forma que cresceu a procura pelo seu trabalho. Achei que não houve, por parte de Titané, fidelidade com a doutrina de Pomada, que dizia não era certo promover aos outros uma opinião que não temos, mas sim a opinião de uma qualidade que não temos.
            A minha idéia era a música. E todos ficaram tão deslumbrados com a elegância de meus gestos, mais do que a música em si. As pessoas aplaudiram-me fervorosamente.
            Porém, a idéia verdadeiramente fenomenal foi a de Diogo Meireles. Havia na cidade uma doença terrível que aumentava em muito o nariz dos enfermos, a ocupar mais da metade da face do doente. Os físicos da cidade opinavam por extraí-los, porém a população não aceitava por questões estéticas. Alguns até se matavam como remédio. Foi quando Diogo reuniu muitos físicos, filósofos, bonzos, autoridades e povo e apresentou-lhes sua idéia: A de substituir o nariz enfermo por um nariz saudável, porém metafísico, e por isso mesmo, invisível aos sentidos humanos. Tal cura teria sido praticada por ele em várias partes, inclusive em Malabar. Depois do estranhamento alguns dos filósofos, para não ficarem atrás da idéia de Diogo, apoiaram-na visto “o homem todo não ser outra cousa mais do que um produto da idealidade transcendental”. Pela qual há total similitude entre um nariz material e um nariz metafísico.
            O grupo de sábios aclamou Diogo, e os doentes começaram a buscá-lo. Diogo Meireles, que praticava a medicina, extraia o nariz enfermo, levava a mão a uma caixa, onde em tese estariam os narizes imateriais, e os aplicava ao local vazio. Os antigos doentes voltavam à vida funcional felizes. E não há maior prova da sabedoria de Diogo senão o fato das pessoas sem o nariz continuarem-se a dispor dos mesmos lenços de assoar.
            O que registro, e relato, para a glória do bonzo e benefício do mundo.



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