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O Globo
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Porque não te calas, Marco Aurélio?

A Bolívia está novamente às voltas com a instabilidade e a incerteza. Fato recorrente ao longo de sua história, como nação independente.
O Brasil, com fronteira terrestre pouco vivificada de 3.400 quilômetros, podia, até recentemente, dar-se ao luxo de assistir de camarote as querelas do vizinho, como sempre fez, sem maiores conseqüências para a diplomacia ou a rotina diária dos cidadãos brasileiros. Podia!
A crescente integração da América do Sul, em todos os campos do poder, por si só, globalizou os acontecimentos, as conseqüências e os reflexos entre países , seja para o bem seja para o mal.
O fato relevante para o Brasil está na forte dependência criada pelo fornecimento do gás proveniente da Bolívia, com conseqüências preocupantes, se considerada a matriz energética atual nas principais cidades brasileiras.
É pública e notória a posição do Presidente Geisel sobre esta questão, ao tempo em que havia estadistas governando o Brasil. Afirmou que não seria recomendável criar dependência com parceiros instáveis e de pouca confiança, referindo-se ao mesmo projeto do gás com nosso vizinho. Havia racionalidade nas decisões. Os tempos e líderes eram outros.
Qualquer aluno medíocre de Relações Internacionais sabe que o espectro do conflito parte da suposição que o diálogo deveria ser a solução dos problemas, e na medida em que falha o diálogo surgem as crises, e na progressão, resta tão somente o uso da força. A Bolívia, com o comportamento do atual presidente, e dos governantes das principais províncias, não deixa a menor dúvida que o espectro tende para o extremo do emprego da força.
Evo Morales empregou as Forças Armadas para ocupar manu militari as instalações da Petrobras, bens de brasileiros, sem que os sindicalistas e politicamente corretos que governam o Brasil atual tomassem qualquer medida digna de registro. Parecia tudo combinado. Evo encorajou-se e cresceu. Tomou tudo da Petrobrás ao arrepio das leis internacionais.
Agora, quando a situação interna daquele país está fugindo ao controle do governo central, surge o assessor do presidente brasileiro para afirmar em público que “Não toleraremos uma ruptura do ordenamento institucional boliviano.”
Nós quem, cara pálida? O atual desgoverno? O MST? A Guarda Nacional?
Algumas considerações.
Marco Aurélio Garcia não é chanceler, ou melhor, ministro das relações exteriores, nem porta-voz do governo. Consta ser assessor especial.
Aonde anda o ‘grande líder’?
Quando estão em jogo os interesses nacionais, ele se mostra invisível, imutável: nada sabe, nada ouve, nada vê. Quando interessa falar pelo Brasil, apesar da verborréia que lhe é peculiar, nada diz!
O Brasil tem pouca ou nenhuma capacidade de ingerência nos assuntos internos da Bolívia. Como nunca teve. Muito menos em momentos de crise.
Acresce-se ainda, que para entender o que se passa em qualquer país, há que se conhecer a fundo sua história, raízes e formação da nacionalidade. A Bolívia foi governada por caudilhos, aproveitadores, gente sem escrúpulos, que nunca se preocuparam com a Nação. País sem ordenamento, coesão ou tradições. Contam-se nos dedos as sucessões dentro da normalidade. O normal são golpes, traições e fracassos.
A geopolítica também conspira contra a Bolívia. Forças centrífugas, isolamento, sucessivas perdas territoriais, a mediterraneidade provocada por campanha militar, marcaram a alma daquele formoso e desafortunado povo.
Fácil de concluir desta sucinta análise que, salvo a excepcionalidade de forças ocultas ou banho de sangue, Evo Morales está com os dias contados no governo e engrossará a longa lista dos governantes que não concluiram seu mandato.
O tempo nos dirá!
Registra a história que certo cônsul romano, ao interpelar um seu subordinado por conduta incompatível e ao percebê-lo homônimo, desferiu-lhe de pronto a sentença: mude de conduta ou mude de nome.
Marco Aurélio e suas categóricas afirmações certamente não traçarão os destinos de Evo Morales e da desventurada Bolívia. O assessor tem, contudo, a alternativa de optar pela conduta reservada ao altivo nome de cônsul que possui, ou comportar-se à moda do famoso personagem que perseguia o Zorro, e ele bem o representa. Por feliz ou infeliz coincidência, carregam os mesmos sobrenomes!
Porque no te callas, Garcia?

Dorival Ari Bogoni é professor de Relações Internacionais e membro do Instituto Político Estratégico Brasileiro.



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