O Labirinto do Fauno
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Eis aí a provação da alma,espelhada nesse filme excelente. O mito do eterno retorno. Vida é morte,morte é vida. Uma traz a provação e a outra libertação.Ao longo dos tempos em crenças diversas espalhadas por tempos e lugares distantes em si,perpetuamente interconectados entre si,essas crenças sempre deram conta deste fato. No Egito Antigo,as vísceras eram extraídas e postas em canôpos,vasos rituais. O cérebro,curiosamente,era descartado,por nada representar naquela cultura. Mas o coração...Este sim,era conservado na múmia,pois acreditavam,que o coração é que seria o responsável,por bons ou maus julgamentos para com o defunto perante o tribunal dos deuses,no além.
As religiões Orientais,por sua vez,professam a crença no ciclo de nascimentos pelo qual a alma passa. Longe de ser algo agradável pelo qual se tenha que passar continuamente,antes é,um suplício para a alma,ter que nascer e morrer tantas vezes,ainda mais num sistema de crença no qual,você diretamente,paga pelo que cometeu no passado,se fez bem,receberá o bem;se fez mal receberá o mal.
Complicado né?Então para impedir essa sequências de nascimentos,no qual,pode-se vir humano,animal,deus ou demônio,denominado Samsara,estas pessoas praticam um sem par de rituais visando a purificação e a consequente anulação de seu ser,de sua existência,denominado Nirvana,o grau de iluminação máxima.
Em certo conto judáico,vê-se com certa curiosidade, o tratamento dado a este tema. Duas almas acabam de receber a sentença do anjo Metraton,aquele das centenas de olhos,portador da espada flamejante. Ambos estavam tristes,pois foram condenados à "morte". A preparação para a execução,consistia em ter seus cabelos raspados e seus dentes extraídos e em seguida suas asas foram tosquiadas. As horas seguiam-se quando finalmente foram avisados que o "coveiro" e o "caixão" já estavam à postos,por isso era a hora da despedida,era hora da "execução",era hora do "enterro". Toda essa alegoria,referia-se ao plano terrestre.Lá dois jovens namorados encontraram-se e ali ficou subentendido que fariam amor naquela noite e dali resultaria uma gravidez.Portanto o significado dos termos seria que o coveiro é a parte masculina,o caixão seria a parte feminina e que o enterro,obviamente,seria o ato sexual que resultaria em uma gravidez,portanto o nascimento aqui,porém morte naquele plano,pois figurativamente a alma seria encerrada numa prisão sem muros.
Toda essa introdução se fez necessária,apesar de à primeira vista,parecer não fazer sentido,é aqui que as coisas se interconectam,pois justamente o fio condutor da trama foi agarrado. "O Labirinto do Fauno" é uma fábula de terror,choca pelo que vemos ao longo do filme,pela violência de dois mundos,tanto o de Ofélia e seu tutor, o fauno do título,como também o da época que ela vivia,quando domínios totalitaristas infeccionavam o mundo. Entre um e outro,não é melhor fazer de tudo e escapar a uma vivência tão cruel e sem esperanças? A fantasia pode ser reconfortadora porém é tão real ou mais real que a realidade em que se vive.Porém a esperança essa sim conduz à busca de uma situação melhor. E exatamente como aquele conto judaico,essa história é uma alegoria às avessas,pelo menos pelo o nosso ponto de vista "terreno",uma vez que Ofélia na realidade é uma princesa que cansada da vida subterrânea,acaba escapando para a superfície,para viver entre os humanos,algo que se pode enxergar como a concepção grega do submundo,não como um lugar infernal,mas sim como a morada dos que um dia foram da superfície,ou seja,morreram. E o castigo para essa alma fujona seria passar por todo o tipo de provações,até que um dia,pudesse retornar para o seu lar e ser feliz finalmente. Quando tomou ciência de sua real condição,Ofélia,aquela menina reprimida pelo meio começou a agir,enfrentou provas horripilantes e entre elas a última que seria a sua redenção: salvar seu irmão,suposto principe de seu reino,daquele mesmo destino pelo qual ela passou:"E o Passado resgata o Futuro" Após esse ato a garota morre de jeito cruel,morte infligida por seu padastro maníaco,que obteve morte ainda mais pavorosa.
Pode-se pensar que tudo foi perdido com a morte da menina,é o que nos faz crer,o senso comum. Só que a realidade é outra.Com a morte,ela conseguiu a liberdade de sua alma,liberdade daquela prisão se muros e pode enfim,retornar ao seu lar,ao lado dos reis,representados por seus pais e ao lado do seu companheiro,o fauno. Lá,sem a prisão sem muros a que era infligida,ela pode voltar a ser ela mesma,uma vez que a sua essência torna-se mais forte. Fica subentendido que a vida aqui neste plano absorve a pessoa e ela se perde de sua alma,de seu eu verdadeiro,obrigada a tantas convenções e receios e o único jeito de se libertar é retornando ao plano espiritual. Realmente a alegoria sombria e onírica de Guillermo Del Toro é completa com todas as sugestões e metáforas com que se possa refletir.
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