O Teatro Oprimido e Outras Histórias
(Augusto Boal)
A conscientização deveria inscrever-se entre os direitos inalienáveis de qualquer ser humano, tal como o direito à liberdade. Sem conscientizar-se acerca de si (conhece-te a ti mesmo) e acerca da sociedade, um indivíduo tem mais probabilidade de iludir-se, de ser enganado. É um indivíduo menos sujeito e mais objeto. É um indivíduo com pouco discernimento para influir nos processos decisórios da sociedade civil e do Estado; com menos capacidade para construir sua própria vida e ter senso crítico para compreender o mundo em que vive e, consequentemente, para escolher conscientemente os seus representantes. Um indivíduo sem consciência crítica é quase uma máquina ou um animal. É um alienado.
A história da humanidade dá conta de alguns pensadores e artistas que têm contribuições incomensuráveis em termos de despertar e fortalecer a consciência crítica. Entre esses pensadores e artistas, destaca-se Augusto Boal, teatrólogo brasileiro, criador do Teatro do Oprimido, o qual espalhou-se do Brasil para o mundo, investindo no tipo de cosncientização pessoal e social que aqui estamos tratando. Pela pedagogia do Teatro do Oprimido, a vida é como um imenso palco, no qual todos nós somos protagonistas de tudo o que acontece, aconteceu e pode vir a acontecer. De modo que não existe a condição passiva dos espectadores. Estes deixam de ser a figura letárgica e anõnima do teatro convencional, de raiz aristotélica, para assumirem o papel de atores transformadores da cena dramática que eles próprios criam e recriam. Em suma, no Teatro do Oprimido, todas são espectadores e atores ao mesmo tempo. Todos constroem e reconstroem as histórias, os cenários e os desenlaces. Todos são diretores e pensadores. Não há lugar para o indivíduo passivo, isto é, aquele que espera que alguém construa ou reconstrua a sua vida.
O Teatro do Oprimido lembra o refrão da célebre canção do músico brasileiro Geraldo Vandré : "Vem , vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer".
Dado a sua grande importância de instrumento democrático de liberador de consciência e de ação, o Teatro do Oprimido vem sendo adotado há cerca de cinco décadas em praticamente todos os continentes do mundo.
Por fim, deixemos que o próprio Augusto Boal defina o Teatro do Oprimido:
"A poética de Aristóteles é a Poética da Opressão: o mundo é dado como conhecido, perfeito ou a caminho da perfeição, e todos os seus valores são impostos aos espectadores. Estes passivamente delegam poderes aos personagens para que atuem e pensem em seu lugar (...). A poética de Brecht é a Poética da Conscientização: o mundo se revela transformável e a transformação começa no teatro mesmo, pois o espectador já não delega poderes ao personagem para que pense em seu lugar, embora continue delegando-lhe poderes para que atue em seu luga (...) A poética do oprimido é a Poética da Liberação: o espectador já não delega poderes aos personagens nem para que pensem , nem para que atuem em seu lugar. O espectador se libera: pensa e age por si mesmo! Teatro é ação!"
Fonte: Augusto Boal. Teatro do Oprimido e Outras Histórias.
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