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Linha de passe
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A história contada em "Linha de passe" lembra bastante algo que o psiquiatra e psicanalista Jorge Forbes, um dos mais ilustres discípulos brasileiros do francês Jacques Lacan, fala sobre a tragédia. "Contra a tragédia, o drama". É assim que aparecem as cinco (mãe grávida e quatro filhos) personagens principais do roteiro filmado por Walter Moreira Salles Jr., em cartaz neste semestre. A tragédia é o destino traçado pela miséria da periferia, que obriga ao crime, pela sobrevivência.

O drama é a revolta sã que transforma ira e raiva em poder de recriação de si, de ver-se em outra situação mais construtiva de vida contra a desconstrução e ruína sugeridas pelo trágico. Conceitos improváveis em um meio desesperado como o filmado em "Linha de passe". Inimaginável o apagamento da revolta, da ira e da raiva em circunstâncias tais quais apresenta o filme e se reconhece no cotidiano brasileiro das grandes cidades. Mais inverossímel ainda que aquela turma de quatro filhos não tenha sido brindada com nenhum "sangue ruim".

Ali, só há bons. Muito fantasioso. Rousseau, do alto do seu "bom selvagem", deve ter se revirado no túmulo. Nunca há só bons e bem-intencionados e em especial o tempo todo, seja em qual for a classe social, do centro ou da periferia. A mãe, empregada doméstica e abandonada pelos homens dos quais engravidou, é dominadora e violenta, ignorando que o seu desejo de poder (fálico) também fez seus filhos serem abandonados pela figura paterna. Estranho não ter criado criminosos. Ela mesma roubou um direito fundamental (de fundamento para a vida, mesmo) de seus rebentos.

O filho mais novo é bem a metáfora disso: procura em todos os motoristas de ônibus o pai que se foi, e de quem não se lembra porque jamais o viu. O menino também se vai. Aprende a dirigir, rouba um ônibus, e sai pro mundo em busca do pai. Contra o sonho roubado (destino e tragédia), a recriação do sonho, que poderia ser o drama, mas na verdade é mais destino trágico, porque é crime.    

Mais do que estranho, utópico demais pensar que pessoas assim possam crescer se transformando em "gentes do bem". Não sei em que medida um filme desses, pelas suas boas intenções, acaba sendo nocivo por abordar a possibilidade de dar "um jeito" na perversidade brasileira, como se fosse mágica. O governo, como um pai, faz o que quer e o que bem entende, desrespeitando diariamente a Constituição, mas exige que seus filhos (o povo) obedeçam à lei, seja qual for a circunstância, justa ou injusta sob o ponto de vista da preservação da vida. 

Daí, a saída pela tangente, pelo jeitinho, pela mágica. Pelo AR-15 e outros calibres, ou pelos sonhos de ser um ídolo do futebol, um pastor de igreja evangélica, um motorista de ônibus ou um endinheirado sem muito esforço. Idéias estas, de "volta por cima", encarnadas pelas personagens de Linha de Passe, mas que, sabe-se, raramente se tornam reais a ponto de transformarem de fato as periferias das grandes cidades.



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