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A grande reserva de dinheiro
(Ira Glass; Alex Blumberg)

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A atual crise financeira, culminando com a falência de um dos maiores bancos de investimento americanos, o Lehman Brothers, tem sua origem na conexão entre pessoas muito distintas. De um lado, pessoas comuns, com baixa renda e mau histórico de crédito. Do outro, grandes executivos de grandes corporações financeiras de Wall Street.
Um exemplo. Clarence Nathan, um homem sem emprego fixo, que trabalha 3 dias em tempo parcial, ganhando 45 mil dólares ao ano. Ele precisava de dinheiro emprestado para uma casa. E, pasmem, conseguiu- 540000 dólares. Ele confessa que não emprestaria o dinheiro a si mesmo. Diz que sua renda não verificada. Na época da entrevista, Clarence não havia feito um pagamento sequer em um ano, e sua casa estava em processo de apropriação. Casos como este se alastram por todo o território americano. Este novo tipo de empréstimo é a alma da crise. Pessoas como Clarence jamais obteriam tal empréstimo.
Para entender o que mudou, precisamos abordar o conceito de “Reserva global de dinheiro”. Esta consiste na totalidade do dinheiro armazenado por bancos centrais, seguradoras e etc. De todo o mundo. Estima-se que sejam 70 TRILHÕES DE DÓLARES. Esta reserva é tão grande que é maior que todo o dinheiro efetivamente GASTO OU GANHO POR TODOS OS PAÍSES DO MUNDO em uma ano. Todo este dinheiro fica sob administração de gestores que visam mantê-lo, mas também fazê-lo crescer. Para tanto, eles realizam aplicações de bom retorno e baixo risco, como os títulos do governo.
Acontece que entre 2000 e 2006, este volume de dinheiro duplicou. Ou seja, em centenas de anos, até 2000, tínhamos 36 trilhões. Em 6 anos apenas, este volume duplicou! O que ocorreu é que muitos países passaram a enriquecer- China, Índia, Arábia Saudita... Todo esse dinheiro ficando nas mãos de investidores ávidos... Temos agora um impasse: duas vezes mais dinheiro- mas não temos duas vezes mais bons investimentos para absorvê-lo.
Para piorar, Alan Greenspan, em um de seus discursos, levou os investidores à loucura, dizendo que manteria as taxas de juro pagas pelos títulos do tesouro americano em ínfimos 1 %- muito pouco para a Grande Reserva.
Passou-se então a procurar por outros investimentos e o mercado de hipotecas residenciais americano, que pagava até 9% de juros, era interessante. Contudo, o inconveniente de lidar diretamente com estas pessoas, não estava nos planos da "Reserva". Como então Wall Street poderia dar este retorno aos investidores?
Voltemos ao exemplo do Sr Clarence. Ele compra a hipoteca de um CORRETOR, que VENDE este empréstimo para um BANCO PEQUENO que REVENDE para uma GRANDE FIRMA DE INVESTIMENTO EM WALL STREET. Em Wall Street algumas centenas destes empréstimos são transformados em “grandes pacotes” (os “mortgage backed securities”, ou securitizações), que produzem bons rendimentos mensais. Por fim, participações destes pacotes são vendidas para os investidores globais- e eles adoraram!
O apetite dos investidores globais era muito alto. Eram necessárias mais e mais hipotecas. No início, os bancos compravam apenas os empréstimos padrão, seguros. Mas eles começaram a acabar. Em 2003, quem poderia ter uma hipoteca já tinha. Wall Street precisava de mais gente para pegar dinheiro empresta, surgindo o "sub-prime" - empréstimos para gente que anteriormente jamais se qualificaria . Outra denominação para estes empréstimos é NINA- (“no income, no asset”- sem dinheiro e sem bens). Nestes empréstimos , fazia-se vista grossa para a real situação financeira dos tomadores. Interessante é que os bancos locais pouco se importavam, pois eles não iriam ter que ficar com os empréstimos pelos 30 anos contratuais- ficariam poucos meses e os venderiam cadeia acima... Para os executivos que compravam estes empréstimos, a lógica residia na tendência dos preços dos imóveis ser sempre de crescimento-o que poderia resultar em refinanciamentos ainda mais vantajosos no futuro.
Outro derivado destes empréstimo são os CDO’s- obrigações colaterais de débito. As CDO’s nada mais eram que fatias de diferentes “pacotes” de empréstimos. Mas não eram as melhores fatias- eram as piores, conhecidas no meio como “lixo tóxico”.
Entre 2003 e 2006, o mercado imobiliário estava numa clássica bolha especulativa. A demanda excessiva levava os preços dos imóveis progressivamente às alturas, de forma que as pessoas passaram a ver os imóveis como investimentos. Acontece que apesar disso, as pessoas não estavam ganhando dinheiro- a renda familiar mantinha-se no mesmo patamar. Foi então que ocorreu uma coisa inédita- as pessoas mal fechavam o empréstimo e já no início estavam inadimplentes- sem perda de emprego, emergência, nada. Eles simplesmente já estavam com a corda no pescoço ao assinar o contrato. Foi quando a bolha estourou.
Na cadeia de securitizações os primeiros a notar foram os executivos no topo da cadeia, em Wall Street. Além do baixo desempenho dos contratos, os preços dos imoveis começaram a cair!
A queda no preço dos imóveis desencadeou a reação reversa: mais pessoas se tornavam inadimplentes, mais casas eram colocadas no mercado, que tinha poucos compradores, forçando os preços ainda mais para baixo.
A “Grande reserva global de dinheiro” colocou trilhões num investimento supostamente seguro, e depois de um ano o dinheiro havia sido consumido numa fornalha. Por isso o melhor termo é “Crise de crédito” e não “crise do subprime”. Os investidores querem o mínimo de risco possível, de forma que aqueles 1-2% de juros dos títulos do tesouro americano já parecem bastante interessantes.



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