"Três ensaios sobre a teria da sexualidade" e "Sobre o narcisismo".
(Sigmund Freud)
No texto de 1905, “Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade”, ao introduzir a noção de pulsão, Freud estabelece uma clara distinção entre objeto sexual e alvo sexual. Chama de objeto sexual à pessoa de que provém a atração sexual e de alvo sexual a ação para a qual a pulsão impele (Freud, 1905, p. 127). Nas transformações, que envolvem as mudanças corporais que ocorrem no início da puberdade, Freud (1905) destaca como decisivo para o aparecimento do conceito de objeto de amor a subordinação das pulsões parciais ao primado da zona genital e a escolha do objeto, cujo chão é dado pela vida infantil (p. 220). Além disso, como salienta Utchitel (2004, p.5), a eleição do objeto é correlativa da introdução e do desdobramento do conceito de narcisismo , uma vez que o investimento da libido nos objetos depende da possibilidade do próprio eu ser tomado como objeto.Ao tentar entender o processo que levava uma pessoa a fazer uma retirada de libido dos objetos do mundo externo – a atitude narcisista – Freud (1914) aponta três meios possíveis, dos quais nos interessa, dentre os aspectos por ele apontados, apenas um destes: o que diz respeito ao estudo da vida erótica dos sexos (1914, p. 98). Estudando a vida erótica dos seres humanos, Freud (1914) percebeu que nas crianças de tenra idade e em crescimento, no que diz respeito à escolha de objeto esta se apresentava como derivada de suas experiências de satisfação:“As primeiras satisfações sexuais auto-eróticas são experimentadas em relação com funções vitais que servem a finalidade de auto-preservação.(....) os primeiros objetos sexuais de uma criança são as pessoas que se preocupam com sua alimentação, cuidados e proteção: isto é no primeiro caso , sua mãe ou quem quer que a substitua”. (Freud, 1914, p. 98)Então, segundo Freud, a escolha objetal, na vida adulta, tomaria como referência os objetos sexuais infantis, que, por sua vez, decorrem das satisfações auto-eróticas experimentadas juntamente com as funções de auto-preservação. A este modelo chamou de escolha objetal anaclítica, ou de apoio, por derivar da condição de desamparo e da presteza do atendimento das necessidades. Ocorre que Freud nos demonstra, também, que além da escolha objetal anaclítica, ou de apoio, um segundo tipo de escolha objetal se apresenta; esta não se baseia na relação com uma outra pessoa, mas nela o sujeito toma a si próprio como matriz para a eleição de seus objetos amorosos. Tais escolhas demonstravam que os objetos escolhidos tinham por modelo a própria pessoa e não sua mãe. Esta descoberta permitiu a Freud compreender que coexistem diferentes formas de escolha de objeto abertas a cada sujeito, a partir de duas premissas básicas, que podem ser pensadas da seguinte forma: (1) Em conformidade com o tipo narcisista ama-se:a) O que ela própria é ( isto é, ela mesma)b) O que ela própria foic) O que ela própria gostaria de serd) Alguém que foi uma vez parte dela mesma2) Em conformidade com o tipo anaclítico ( de ligação) (APOIO) ama-se:e) a mulher que a alimentaf) o homem que a protege.e a sucessão de substitutos que tomam seu lugar (Freud, 1914, p. 104)No rastro da relação com o seio materno – modelo primeiro da experiência de satisfação – se instala a mola impulsora da capacidade para a escolha objetal. Também a capacidade para a sucessão dos substitutos que temporariamente tomam o lugar do seio. O que torna cada encontro do objeto um reencontro (Freud, p.1905), ainda que se tratando da escolha narcísica , - “alguém que foi uma vez parte dela mesma” - é o seio, primeiro objeto da pulsão, que se apresenta como aquilo que, do Outro, deixa marca no sujeito. É o Outro que causa, ainda que o bebê neste momento não perceba o Outro como tal, e sem jamais lembrar, jamais o esquece. Resumindo o que descobriu, quanto à escolha amorosa, Freud (1914) diz que: “um ser humano tem originalmente dois objetos sexuais – ele próprio e a mulher que cuida dele” (p. 104). Tal afirmação aponta, tanto a noção de objeto da pulsão como a noção de objeto de amor, na direção do objeto do desejo - enquanto herdeiro de uma espécie de espólio desse objeto que, sendo o primeiro, é causa de todas as causas. Assim, a série de objetos em Freud tem, em síntese, uma relação com este primeiro Outro, a mãe, cuja presença na cena inaugural, mais do que nos braços, segura no simbólico um bebê que se faz sujeito.
Resumos Relacionados
- Escolha Consciente De Objeto: Escolha Narcísica
- Fase Genital (psicanálise)
- Narcisismo Primário E Secundário
- Pulsão Parcial
- Pulsão De Auto-conservação (pulsões Do Ego)
|
|