As velas ardem até ao fim
(Sándor Márai)
As velas ardem até ao fim, acrescentaria eu, sopre o vento donde soprar. Conhecendo o povo Húngaro como conheço, pois vivi em Budapeste durante 2 anos, diria que esta amizade aqui retratada e violentamente arrebatada por paixões triangulares, só poderia acontecer entre dois seres desta Nação, com um orgulho que não lhes cabe na razão, e muito menos lhes cabe no coração. Também só poderia acabar como acaba, pois a procura da verdade não passa de uma confirmação de algo que está mesmo em frente de nós. Não há nada a dizer quando se tem consciência plena dos sentimentos que nos martirizam os dias e a existência, e quando esses sentimentos constituem na verdade a nossa razão para subsistir. Creio que a mulher que compõe o triângulo acaba por ser um catalizador da amizade extrema entre estes dois homens que não a traduzem fisicamente porque não derrubam os muros que os separam. Vem a honra condimentar um desejo não consumido e muito menos assumido por estes homens que, tenho experiência própria, não conseguem sequer criar amizades com estrangeiros, provavelmente porque lhes corre no sangue glóbulos xenófobos. Durante anos, um homem espera jantar com outro para lhe tirar a verdade sobre tudo o que já sabia. Nunca teve a resposta pois já a conhecia. Um ângulo mais derrotista traduziria que a honra e o orgulho fatalizam a vida em momentos sen sentido e que não valem a pena.
Foi insuportável para mim viver na Hungria. Mas gostei de ler o livro. Confirmei a verdade que estava mesmo à minha frente. Ao contrário de outros autores Húngaros, Sándor Márai esconde a esquizofrenia que escorre na literatura Húngara, facilitando a leitura a quem vai já com duas pedras na mão, como eu ia.
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