Cronicamente Inviável
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O filme Cronicamente Inviável, com um título interessante e um roteiro cruel, remete a um Brasil predatório e corrompido em época de crise. Os assuntos tratados, de um mesmo fôlego, são problemas como tráfico de órgãos, venda de crianças, violência policial, acampamento de sem-terras, queimadas na Amazônia, dentre outros. Entretanto, no centro das atenções, está o abismo que separa as elites dos miseráveis.
Na história, existe Alfredo, que viaja pelo Brasil realizando pesquisas para escrever seu novo livro. Ele vive e tenta compreender os problemas de dominação e opressão social. Adam, descendente de poloneses, sofre com a discriminação de outros imigrantes europeus em sua cidade no Paraná. As histórias de um e outro convergem para o luxuoso restaurante em São Paulo, onde Adam vai trabalhar como garçom e Alfredo encontrar os amigos: Luís, Maria Alice, Carlos e Amanda. Maria Alice e Carlos são um casal de família tradicional do Rio de Janeiro. Ela tem uma postura idealista diante dos problemas sociais e Carlos é um economista que acredita no pragmatismo e na racionalidade do capitalismo. Amanda, mestiça de índios, negros, brancos e derivados, é gerente do restaurante e de uma rede de tráfico de crianças e de órgãos. Luís, o proprietário do restaurante, é um homem de meia idade, refinado, que acredita na civilidade como forma de defesa ante a violência social.
Apesar de se concentrar no restaurante, o filme possui cenários diversos, colocando em foco as mais surpreendentes situações de aproximação e conflito entre diferentes raças e classes sociais, de várias regiões do país, revelando, sem qualquer concessão, a impossibilidade de uma cultura nacional homogênea.
Uma vez que o filme é, sobretudo, uma discussão sobre as relações de poder, o ressentimento e a angústia que as acompanha, o dominado se ressentindo do sadismo do dominador; cenas como a da empregada que é flagrada com seu namorado na casa dos patrões ou como a do cozinheiro Adam revoltando-se contra seu ex-patrão e provocando uma insubordinação são exemplos de que os socialmente menos privilegiados nutrem um profundo rancor contra os "dominadores", e este rancor acaba por emergir em uma situação mais traumática. Essas passagens também podem ser conciliadas com idéias marxistas. São uma mostra da chamada luta de classes, o motor da história. O proletariado sente o antagonismo social e protagoniza uma transformação social, não aceitando a realidade burguesa como padrão de conduta. A burguesia, por sua vez, detentora de valores econômicos, sociais, familiares, controla as relações sociais. Para Marx, a desigualdade de propriedade como fundamento das relações de produção cria contradições básicas com o desenvolvimento da forças produtivas. Essas contradições se acirram até provocar um processo revolucionário. Essa situação cabe inteiramente nas cenas retratadas no filme. E outros episódios também podem ser analisados sob uma ótica das idéias de Marx. A cena em que a burguesa Maria Alice distribui brinquedos para crianças carentes provocando discórdia e mostrando a desigualdade social também é exemplo disso.
Enfim, o filme Cronicamente Inviável é uma crítica a toda a sociedade brasileira, a todas as classes e à própria situação política, econômica e social do Brasil.
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