Folha de Sao Paolo
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A nova regra de ortografia confunde até dicionários
Não sou eu quem fala. Está no caderno Cotidiano, do jornal Folha de São Paulo, do dia 27 de outubro. Ricardo Westin, da Reportagem Local, arrasou ao mostrar que a nova regra de ortografia exalta a sadia rivalidade entre os dicionários Aurélio e Houaiss. A verdade é que não seria agora, com a reforma, que ambos se entenderiam. A Academia Brasileira de Letras pretende encerrar os impasses em fevereiro, quando a reforma ortográfica já estará em vigor.
Vamos exemplificar algumas divergências entre os dois. Nas recém-lançadas versões de bolso, o dicionário Houaiss (Ed. Objetiva) grafa o pára-raios de hoje como para-raios, e o Aurélio (Ed. Positivo) grafa como pararraios. E as diferenças seguem. A versão mini do Houaiss grafa sub-reptício e para-lama; já o novo Aurélio traz subreptício e paralama.
Aurélio e Houaiss à parte, o acordo internacional, assinado em 1990, tem o objetivo de unificar e simplificar a grafia da língua portuguesa. Serão derrubados acentos – enjoo e epopeia, por exemplos – e o famigerado trema praticamente será riscado dos dicionários. Só vai permanecer em palavras estrangeiras, tais como Müller e mülleriano.
O já confuso hífen tem, no acordo, regras novas. Certas palavras o perdem como antissocial e contrarregra; e outras o ganham como micro-ondas e anti-inflamatório. Segundo o texto do acordo, devem ser aglutinadas, sem hífen, as palavras compostas quando se perdeu, em certa medida, "a noção de composição". A reportagem da Folha lista alguns exemplos: mandachuva, girassol, madressilva, pontapé, paraquedas, paraquedista, etc. A obscuridade fica exatamente no etc. Ainda de acordo com a Folha, “o Houaiss, por exemplo, achou mais seguro ignorar o “etc.” e decidiu que só seriam aglutinadas aquelas seis palavras acima.
O acordo tem outras regras, mas vamos comentá-las nos próximos artigos/sinopses. Enquanto isto, registramos aqui um trecho de “Memorial de Aires”, de Machado de Assis, em três momentos em relação à ortografia, conforme a reportagem da Folha.
EM 1908:
Opinião ou diversão, acrescentou que os olhos das suas antigas patricias eram em geral bellos, e falou compridamente de outras damas; assim não parecia louvar somente a viuva Noronha. Achei isto bem, como equidade e como estetica. No meio da conversação tive uma ideia; disse-lhe que D.Carmo, que lhes queria tanto, em vez de propor á amiga a simples tela da praia, devia propor-lh’a com alguma figura humana. (...) Dahi saltámos ás galerias de arte da Europa, e falámos do que sabiamos.
HOJE:
Opinião ou diversão, acrescentou que os olhos das suas antigas patrícias eram em geral belos, e falou compridamente de outras damas; assim não parecia louvar somente a viúva Noronha. Achei isto bem, como eqüidade e como estética. No meio da conversação tive uma idéia; disse-lhe que D.Carmo, que lhes queria tanto, em vez de propor à amiga a simples tela da praia, devia propor-lha com alguma figura humana. (...) Daí saltamos às galerias de arte da Europa, e falamos do que sabíamos.
A PARTIR DE 2009:
Opinião ou diversão, acrescentou que os olhos das suas antigas patrícias eram em geral belos, e falou compridamente de outras damas; assim não parecia louvar somente a viúva Noronha. Achei isto bem, como equidade e como estética. No meio da conversação tive uma ideia; disse-lhe que D.Carmo, que lhes queria tanto, em vez de propor à amiga a simples tela da praia, devia propor-lha com alguma figura humana. (...) Daí saltamos/saltámos às galerias de arte da Europa, e falamos/falámos do que sabíamos.
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