Flor da Pedra
(Cida Almeida)
Cida Almeida é poeta que não teme a esfinge, que nos interroga a todos na jornada. Alma atenta, observa no desafio pedra por pedra do caminho.
Percebe nele e nelas as belezas do tempo, do chão da estrada, do vôo do pássaro, das flores que abrem lentas, dos colibris mesmo que se recolhem no inverno, para algum lugar em que apenas o coração vê.
Por tempos se afasta disso, e é apenas uma pessoa comum, como colega jornalista, como bacharel de direito, como filha, como irmã apaixonada pela família, como zelosa criatura cujas perdas são pranteadas, mas não lhe são carga, e sim doces recordações, como do avô intrépido aventureiro, da mãe zelosa da fortaleza física dos filhos tantos que gerou.
Ama o pai, ama a natureza, ama as pessoas.
Cida Almeida ama, sobretudo, a poesia que encontra nas palavras e mesmo as palavras todas, a velocidade ou a lentidão delas, do que muito sabe; o vigor ou a docilidade graciosa que revelam... A paz ou a força bruta que denotam.
Assim é que ama os poemas também e, arrisco, tem em Manuel Bandeira um guia para esse amor ao verso.
Cida Almeida ama e o diz com uma propriedade ímpar, como você vai encontrar nesse primeiro livro de poemas dela, embora, saibamos todas as pessoas que já a conhecem, sempre escreveu. E também haja dor.
Na apresentação desta primeira obra, a professora Maria Luiza Oswald, diz que há em Cida Almeida “poética da alteridade e produção de sentidos que põe fundura no amor que devotamos à palavra... porque escrever para o outro é inscrever-se no outro como tatuagem, e isso supõe eximir-se do esquecimento do outro”.
Quanto à leitura de Cida Almeida, Maria Luiza Oswald impressiona: “fui atravessada por sentidos adormecidos... Lendo Cida, meus sentidos explodiram: revivi, me reinventei. Só a palavra poética desentoca isso no outro, só a palavra que é forjada no mais intenso amor provoca no outro a experiência da pedra e da flor.”
O poeta Renato Torres, corrobora:
Eu espreito e temo o rolar da pedra
No rolar das pedras do dia
A pedra grande
A impensável pedra
Na fundura da espera (...)
A pedra inominável
A inarredável pedra.
Pedra que se move versus pedra inamovível – uma antítese que filosofa sem resposta, e que brinca de ser, transmutando-se. A pedra, em Cida, também é a flor. O mistério mineral, que, como no mito bíblico, ergue o barro que respira e fala – a palavra – e quer ressoar, um eco, até a última palavra.
Eu costumo dizer já há algum tempo que de poemas não se fazem resenhas.
Lê-se-os, até em voz alta; recortam-se trechos, diz-se-os, fazem-se cópias inteiras.
São sentimentos que deitam-se em palavras.
Escolho o trecho de um para ilustrar o que digo de Cida Almeida e seu Flor da Pedra.
A rosa metálica
Tilinta
No coar das tardes
A rosa metálica
Que o mágico tira da cartola
Tilinta
No eu infinito
A palavra
Abracadabra
Abra-cadabra
Abra cada
Dabra
E dobra
Dobra
Tilinta
Sem nenhuma magia
A Rosa
Metálica
No fundo da cartola
Desses dias de manhãs puídas
Dessas tardes sonâmbulas
Vagas noites que me engolem
...
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