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Literariedade em OS SAPOS
(Letícia Andrade)

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Os métodos formalistas formados na época da Primeira Guerra, surgem em oposição ao que era considerado impertinência do método histórico. Além de se opor ao determinismo científico, combatia o modismo impressionista que tinha a beleza como estímulo para longas divagações em torno da sensação provocada pela leitura. Em fins de 1916 e princípios de 1917, uma equipe de jovens estudiosos de Moscou reuniu-se em torno da OPOÏAZ (sociedade para pesquisa da linguagem poética), de onde surgiu o formalismo russo, movimento preocupado com o estudo intrínseco da literatura. Indignados com alguns “ismos” (sociologismo, filosofismo) e o método extrínseco, propuseram não só um estudo centrado no texto literário, mas, instituíram a própria literariedade como objeto específico de investigação. Coerentemente com os paradigmas do formalismo russo, temos a análise proposta por Vikton Jirmunski, no ensaio As tarefas da poética, no qual ele discorre sobre a poética como ciência que pesquisa a poesia como arte, o que servirá como base teórica para a análise do poema Os sapos, de Manuel Bandeira. Este poema do Modernismo Brasileiro é composto por 14 quartetos isométricos, em versos de redondilha maior, com um ritmo que varia, pois aparecem acentuadas a 1ª e 5ª, ou a 2ª e 5ª, ou a 3ª e 5ª. Com rimas externas, consoantes e cruzadas (abab), classificam-se em ricas e pobres. O esquema de rimas é quebrado apenas na oitava estrofe, que é um terceto com rica contínua (aaa). Desta maneira, o poema está construído segundo rigorismo formal adotado pelo Parnasianismo. O conteúdo do poema é essencialmente metalingüístico: na fala do sapo-tanoeiro aparece o fazer da poesia, apresenta-se a técnica da arte parnasiana e alude-se a vitória da forma sobre o conteúdo (3ª, 4ª, 5ª, 6ª, 7ª, 9ª, 10ª estrofes). Os aspectos formais citados são o ritmo ( 3ª estrofe), o horror ao hiato (4ª estrofe), as rimas consoantes (4ª e 5ª estrofes), a beleza formal (5ª estrofe). As demais estrofes podem ser divididas em duas idéias básicas: participação contraditória e duvidosa  no diálogo sobre arte, do sapo-boi e dos sapos-pipas (1ª, 2ª, 8ª e 11ª estrofes) e a isenção do sapo-cururu como participante do diálogo ( 12ª, 13ª e 14ª estrofes). Personificação é o processo imagístico básico quanto À estrutura expressiva deste, pois são atribuídas aos sapos qualidades e ações próprias do homem: “Berra o sapo-boi:/ Meu pai foi à guerra!” ou “ O sapo-tanoeiro, / Parnasiano aguado,/ Diz: -Meu cancioneiro/ é bem martelado” ou “ Urra o sapo-boi:/ -‘Meu pai foi rei”- “Foi!’”, etc. Por outro lado, este poema é todo uma metáfora, pois não acontece a personificação de apenas um elemento, mas de todos os elementos que agem no poema, ou seja, os sapos. Eles substituem figurativamente os homens que trabalham com arte, com versos, com poesia, portanto, os poetas. Trata-se do diálogo de vários sapos que representa a classe dos poetas; estes comparados a sapos, cujo coaxar (que não é canto) não tem beleza alguma, são automaticamente inferiorizados. O que mais chama atenção neste poema é justamente o fato de, por se tratar de uma crítica às formas perfeitas do Parnasianismo, o poeta modernista imita em tom jocoso, ou melhor, faz uso justamente destas formas na composição do poema para atacar o movimento da arte pela arte. Aqui o conteúdo (o que) está indo de encontro à forma (como), o que não quer dizer, que forma e conteúdo são divisíveis. Percebe-se a ironia é também um processo que ocorre no poema e vem aliar-se não só a comparação já pejorativa dos sapos/poetas, mas também à antítese entre forma e conteúdo. Como já foi dito, é clara a correlação entre sapos e poetas, assim como é clara a crítica do poeta ao Parnasianismo. Chamar o sapo-tanoeiro de “parnasiano aguado” ( adjetivo com sentido depreciativo), com seu “cancioneiro bem martelado”, é dizer que o ritmo marcado do Parnasianismo é como o coaxar do sapo-tanoeiro (ferreiro).Trata-se do desprezo irônico a esse ritmo. Na quarta estrofe, a declaração enfática das virtudes poéticas  parnasianas com termos rebuscados “Vede como primo”, seguido de uma expressão grosseira “Em comer hiatos”, com o verbo “comer” em lugar de “suprimir” estendendo a idéia de digeribilidade a uma ocorrência estético- formal. A ausência do processo irônico e de termos pejorativos nas três últimas estrofes confere-lhes sentido positivo quanto a seu conteúdo. O conteúdo semântico dos termos nessas estrofes liga-se a idéia de distância (“longe”, “lá”, “fugido ao mundo”, “perau profundo”), solidão (“longe dessa grita”, “noite infinita”, “sombra imensa”, “fugido ao mundo”, “perau profundo e solitário”), e desilusão (“sem glória, sem fé”, “soluças tu”, “transido de frio”). Estas três últimas estrofes diferem-se do pronunciamento expresso nas demais, ou seja, do que diazem os outros sapos que, ou roncam, urram ou bradam colocando- se a favor ou contra as regras poéticas; o soluço do sapo-cururu é um coaxar que é menos que urro, ronco ou brado, vem de um sapo que se distancia da saparia para ficar em silêncio, chorando sua desilusão com a arte. Em consonância com o ensaio de Jirmunski, onde ele diz que
“em trabalhos científicos  sobre os problemas da poética, tem de ser evitada a confusão inconsciente da “vivência do poeta” e das “idéias” dos seus contemporâneos como conteúdo da obra literária, com os procedimentos da arte como “forma””.



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