Ecologia de uma comunidade de serpentes no cerrado do Brasil central.
(França; F.G.R.; Araujo; A.F.B.)
As dificuldades de observação e registro em campo, motivadas pela raridade
da maioria das espécies, trazem dificuldades históricas do estudo de
comunidades de serpentes tropicais. Para investigar o papel dos fatores
ecológicos na organização das comunidades, apresentamos nossa interpretação
da estrutura ecomorfométrica de uma comunidade de serpentes do
Cerrado do Distrito Federal, composta de 61 espécies, distribuídas em seis
famílias. Foram examinados seus atributos quanto à forma e tamanho do
corpo das espécies, as relações com a história natural e os padrões de concorrência,
considerando também o seu status de conservação. Observamos
uma grande variedade de hábitos, havendo serpentes fossoriais, criptozóicas,
terrestres, arborícolas e aquáticas, explorando também diferentes
períodos de atividade. Há uma predominância de espécies que ocupam
áreas de interflúvio, sendo que os endemismos estão relacionados aos habitats
abertos. A dieta também varia, desde invertebrados a vertebrados,
incluindo ovos. A composição da comunidade assemelha-se com outras
comunidades de áreas abertas neotropicais, diferenciando-se das florestais
(Amazônica e Atlântica). A riqueza da comunidade é alta e comparável à
de localidades amazônicas. As análises multivariadas evidenciaram a formação
de grupos morfológicos distintos relacionados aos recursos. Apesar
da filogenia estar sendo ultimamente considerada o fator mais importante
na estruturação das comunidades neotropicais, nossos resultados apontam
uma forte importância ecológica para a formação desta comunidade de serpentes
no Brasil Central, caracterizando uma ofiofauna peculiar. Também,
observamos uma maior diversificação de nichos das serpentes do Cerrado,
comparando-se com da Caatinga, com a presença de espécies fossoriais
e criptozóicas ocupando um espaço morfométrico inexistente na comunidade
de Exu, em Pernambuco. Com utilização de modelos neutros, não
observamos padrões de co-ocorrência de espécies e guildas nos fragmentos
do Distrito Federal, sugerindo que o curto tempo de formação dos fragmentos
e a conectividade entre eles ainda dificultem a atuação de interações ecológicas conhecidas que estruturam comunidades fragmentadas.
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