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Grande Sertão Veredas
(Guimarães Rosa)

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Grande Sertão é a narrativa única do ver, viver e sentir na linguagem sincopada, regional e inigualável de Guimarães Rosa:

                A monumental jornada se desenrola no grande sertão das Gerais: Minas Gerais, Bahia, Goiás, até o sul do Nordeste brasileiro formam um imenso teatro de guerra,  marcado no centro pelo Rio do São Francisco, o velho "Chico", em um vasto continente então ( e até hoje) escassamente povoado, até o Jalapão deserto, numa sucessão de cerrados, serras, serranias e a vastidão impenetrável da caatinga, contrastando com a beleza das veredas - que são cabeceiras, brejos e cursos d'água esparramados por extensos vales onde os buritis, a palmeira do sertão, floresce com força e número, marcando a paisagem e as memórias de quem vê o Chapadão do Urucúia - "onde tanto boi berra" ou "onde a vista reta vai longe, longe, nunca esbarra:  
                        Estrela gosta de brilhar é por cima do Chapadão!"

                 E é neste território inóspito onde floresceu Lampião, jagunço dos jagunços, com seu bando, sua lei e sua independencia, assaltando e fugindo das "volantes" (a então versão brasileira da cavalaria americana), que em incursões difíceis, demoradas e perigosas buscavam capturar, vivos ou mortos, aqueles que desafiavam o governo, e suas leis, perturbando os coronéis, feitos sucessores aos barões do Império.

                Guimarães Rosa é antes de tudo uma viagem pelo interior da alma e da  sensibilidade poética do homem simples, do matuto dos grotões,  do sertanejo ladino e invencível na arte de sobreviver, de mansinho, sem alarde, sem muito demonstrar, na lida diária de garimpar no "aspro", de extrair o mínimo indispensável de onde quase nada há. Mas de tudo  encontra, sem perder a ternura, sem esquecer a candente latitude da alma, nas canções singelas, nos amores rudes, na simplicidade do querer bem e na comunhão diária com as pequenas maravilhas da natureza em derredor, em harmonia com o lento passar do tempo por aquelas bandas. 

                Por fora desta alma simples e rude, no entanto,  a natureza revestiu o homem com uma carapaça como a do tatú-bola: como já definiu Euclides da Cunha n'Os Sertões - o sertanejo é antes de tudo um forte - e  na iminencia do perigo se tranforma, no fragor da batalha se transmuda, avulta e cresce para enfrentar o embate. Como o vaqueiro encourado se embola com o cavalo para furar o espinhal da caatinga e alcançar na corrida a rês desgarrada que despenca da boiada, o jagunço é o sertanejo em armas, senhor da vida e dos bens de quem cruza seu caminho, se carece tomar para sua própria sobrevivencia: cousa pouca, que leva consigo em jornada ininterrupta pela imprevisível vida errante, de duração apenas diária.

                Riobaldo Tatarana, cobra voadeira, o Urutu Branco, o protagonista da estória, é um jagunço cheio de valentia e sabedoria, em luta permanente com suas memórias terríveis de amor e violência, sobrevivente dos tempos do cangaço, que narra a Rosa suas peripécias, à frente de um temido bando: 

            "Cavalo, cavalaria! Cortejo grande, solevando para adiante o aprumo de meus homens, os chapéus deles quase todos bem engraxados com sebo de boi e nata de leite, em ponta os canos dos rifles de guerra, a tiracol. Com qual seguimento? Só, o que esperava a gente, era o pouso para o jantar."

            Navegavam sem destino, no sol abrasador pelo sertão do Urucúia, buscando os inimigos ou fugindo deles, no constante ir e vir de uma guerra interminável, com outros jagunços, como o Hermógenes, o terror armado até os dentes e guiado pelo diabo, assombração constante na consciencia de Riobaldo:

                             "O diabo não existe. Pois não?" - ou do amor incompreensível por seu amigo Diadorim, amor descabido naquela rudeza de cenário, mas teimoso e inarredável, que insistia em minar seu coração, com meiguice e carinho por outro homem, companheiro seu de armas, indecifrável personagem no imaginário do narrador: 
  "À Januária eu ia, mais Diadorim, ver o vapor chegar com apito, a gente esperando toda no porto."

        Ou então: "Que Deus existe, sim, devagarinho, depressa. Ele existe - mas quase só por intermédio da ação das pessoas: de bons e maus." 

                                E sob o zumbiz, o fiufiu e os papocos das balas empurrando o couro de boi pendurado nas janelas, na intensa fuzilaria das tocaias, ah, sentimento de como "quando a onça pula, quando a canoa revira, quando a cobra chicoteia - ao caminho dos infernos.  Ouví a guerra." !



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