"Até Amanhã Camaradas"
(Manuel Tiago)
A obra "Até Amanhã Camaradas", nascida do punho de Álvaro Cunhal e dada a conhecer através do seu pseudónimo Manuel Tiago, é um romance histórico, com um certo pendor neo-realista. Neste soberbo livro de linguagem simples e fluida, porquanto não descuidada e altamente incisiva, é narrada a vida clandestina do PCP - Partido Comunista Português nos Anos 40 do século passado, nos tempos da II Guerra Mundial.
Evocando as lutas travadas na zona do Ribatejo, a acção estende-se desde os pinhais inóspitos onde se realizavam encontros isolados de camaradas, até às casas de apoio do partido, local das reuniões formais, passando por todos os ambientes que servem de metáfora ao interior esquecido. O romance de Álvaro Cunhal, histórico líder do Partido Comunista Português, abarca assim interessantes perspectivas históricas e sociológicas do mundo rural, onde se centra a acção principal. São, assim, postos em evidência vários aspectos da vida da época, de entre eles o isolamento de pessoas e lugares, a vida incerta por uma causa - a Liberdade, a distribuição clandestina da imprensa do PCP, nomeadamente do jornal “Avante”, as estratégias de mimetismo e fuga, a doutrinação nas jornas, as greves e, por fim, a perseguição. Inspirador e comovente, é de notar que “Até Amanhã Camaradas” não pode deixar de ser lido por aqueles que, por algum acaso, revelem complexos de facciosismo contra o PCP, porque para os comunistas este é, sem sombra de dúvidas, um livro de culto.
Que se tenha presente que esta é, no mínimo, uma obra a respeitar, porque, no seu âmago, transmite valores morais elevados e, em última análise, não conta, genericamente, mais do que a verdade do povo português que viveu oprimido durante quase cinco décadas da sua História.
Luís Manuel Martins
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