Apocalypse Now
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“Meu filme não é sobre o Vietnã. É o Vietnã. Foi feito da mesma maneira que os americanos fizeram a guerra. Estávamos na selva, havia gente demais, dinheiro demais, equipamentos demais e aos poucos fomos ficando loucos”, declarou Francis Ford Coppola aos jornalistas que cobriram o Festival de Cannes de 1979, onde o filme ganhou a Palma de Ouro de melhor filme. Os problemas ocorridos no intervalo de três anos entre o início da produção e a estréia justificam a declaração do diretor. Já em 1969, em plena guerra, Coppola tentou como produtor levantar o dinheiro para a primeira produção da American Zoetrope, empresa criada por ele e George Lucas, mas nenhum estúdio quis apostar em um filme sobre uma guerra impopular e ainda arriscar a vida de técnicos e atores em uma zona de combate. Mesmo com a retirada das tropas americanas, em 1973, e o fim da guerra, dois anos depois, o Exército americano não deu apoio à produção. Embalado pelo sucesso de O Poderoso Chefão 1 e 2, Coppola retomou o projeto e, em 1976, começou a filmar nas Filipinas, onde a geografia é semelhante à do Vietnã e as Forças Armadas tinham equipamentos iguais aos usados na guerra. Por pouco não entraram também na luta armada, pois o governo filipino combatia uma guerrilha comunista no sul do país, tendo ocasiões em que as batalhas reais aconteceram a menos de 20 km dos locais da filmagem. Pilotos e aeronaves, por vezes, tinham de combater a guerrilha e abandonavam o trabalho. Com a troca frequente de pilotos, as cenas tinham de ser ensaiadas várias vezes. Harvey Keitel, o ator escolhido para o papel principal, foi dispensado depois de duas semanas de filmagem. Martin Sheen, aos 36 anos e fumando cerca de três maços de cigarro por dia, se considerava fora de forma, mas aceitou o papel e o desafio de suportar 16 semanas na selva, estendidas depois para 34. Em meados de maio, o tufão Olga atingiu as Filipinas, causando mais de 200 mortes entre a população, destruindo os cenários e causando a suspensão das filmagens por dois meses. Em março de 1977, Martin Sheen sofreu um infarto agudo e chegou a receber a extrema-unção; seu irmão, Joe Estevez, foi chamado e filmado de costas, em planos abertos. Em meados de abril, Martin Sheen voltou para filmar seus closes. Marlon Brando ameaçava abandonar a produção sem devolver o milhão de dólares que recebera adiantado. Quando chegou, o roteiro não estava definido, ele não havia lido a novela que inspirou o roteiro e, ao contrário do que prometera, não tinha perdido peso. Coppola e o diretor de fotografia, Vittorio Storaro, decidiram filmá-lo na penumbra, e muitas cenas foram rodadas com monólogos improvisados. Como se não bastasse tudo isso, a produtora American Zoetrope quase vai à falência. Ao fim de 238 dias, produziram-se mais de 200 horas de filme, que ocuparam quatro editores, por quase dois anos. Com um orçamento estimado em 31 milhões de dólares, o filme arrecadou mais de 150 milhões.
John Millius se inspirou em Coração das Trevas, do escritor inglês Joseph Conrad, publicado em 1902, para escrever o roteiro de Apocalypse Now. Coração das Trevas se passa no Congo, no final do século 19, então uma colônia da Bélgica. Marlow, piloto recém-contratado de um barco a vapor que faz o transporte de mercadorias entre postos comerciais ao longo de um rio, ouve histórias sobre um certo Kurtz, comerciante de marfim que se estabeleceu no interior junto a uma tribo e usa métodos misteriosos para conseguir muito marfim, o que desperta a inveja de outros negociantes. Conforme vai subindo o rio, aumenta o desejo de Marlow de conhecer Kurtz. Conrad faz da selva africana uma personagem da história, e sua influência sobre os outros, principalmente sobre Kurtz, é decisiva para o desfecho da trama.
Saigon, capital do Vietnã do Sul, 1968. Em um quarto de hotel, o capitão Benjamin Wilard (Martin Sheen) aguarda uma nova missão. Bêbado e extremamente ansioso, não vê a hora de voltar à selva. Sente que fica mais fraco a cada minuto naquele quarto, enquanto que, a cada minuto escondido, Charlie fica mais forte – “Charlie” é como os americanos chamavam os guerrilheiros vietcongues que lutavam pela unificação do Norte, comunista, com o Sul, apoiado pelos Estados Unidos. Dois militares chegam para levá-los a uma base fora da cidade. Lá, ele é informado que um coronel das Forças Especiais, chamado Kurtz (Marlon Brando), depois de mandar matar quatro vietnamitas que julgava espiões, entrou com suas tropas no Camboja e de lá está agindo de forma independente. O Exército acusa Kurtz de assassinato e acredita que ele enlouqueceu. A missão de Willard: subir o rio Nung em um barco de patrulha, seguir a trilha do coronel Kurtz e matá-lo. Em Apocalypse Now, algumas das situações vividas pela tripulação do barco de patrulha no fictício rio Nung foram inspiradas em cenas do livro. Outras foram tiradas de histórias reais da guerra. No entanto, o ponto em comum entre o livro e o filme é o tema da viagem. A jornada dos personagens rio acima e, ao mesmo tempo, uma viagem aos recônditos da alma é uma metáfora para uma apocalíptica descida ao inferno.
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