Depressão NA INFANCIA E ADOLESCENCIA
(LEE FU-I; FRANCISCO ASSUMPÇÃO JR; TENG CHEI TUNG)
Por se tratar de uma patologia grave e cíclica, a depressão de início precoce necessita de cuidados o quanto antes, para que se evitem prejuízos no desenvolvimento e no funcionamento global da criança. É consenso geral que crianças e adolescentes podem deprimir, apesar da pouca concordância que existe em relação à natureza e a estrutura dos sintomas nessa população, tornando o seu reconhecimento um desafio. Tristeza em função de perdas ou raiva decorrente de frustração são na maioria das vezes reações afetivas normais e passageiras e não requerem tratamento. Mas a persistência e presença de tristeza e a irritabilidade podem ser indícios de quadros afetivos em crianças. A depressão pode variar em função do funcionamento cognitivo, habilidade social e grau de desenvolvimento biológico de cada criança. Nos primeiros anos de vida, onde ainda não há a aquisição plena da linguagem verbal, devemos estar atentos à expressão facial e à postura da criança, já que nesse período ela pode não ter condições de relatar seus próprios sentimentos e emoções. O lactente pode evidenciar retraimento social, desânimo e desinteresse em atividades de lazer, bem como apatia, inapetência e pouca resposta a estímulos sensoriais, como por exemplo, o abraço. Mas ele pode ser do tipo que chora muito e que é difícil de ser consolado, ou ainda aquela criança nitidamente irritada e inquieta, com alternâncias do humor, de tristeza a momentos de descontrole e raiva, as chamadas “tempestades afetivas”. No primeiro ano de vida, a perda de habilidades já adquiridas (regressão da linguagem, ecolalia e enurese), é freqüente. Dos 2 a 5 anos é comum a dependência excessiva, com ansiedade de separação, pouco controle dos impulsos, irritabilidade ou instabilidade emocional. Crianças na pré-escola, quando deprimidas, não raro estão com o peso abaixo da média para a idade e apresentam a fisionomia triste ou de seriedade, irritação, inapetência, agitação psicomotora ou hiperatividade, insônia com ansiedade, balanceios, estereotipias e agressividade contra si mesmo ou contra terceiros. Podem manifestar cansaço intenso com falta de energia, anedonia, com perda do prazer e do interesse em atividades que antes gostava e até para brincar. Comumente queixam-se de sentimento de tédio e de que nada presta e tudo é chato. Queixas somáticas vagas e inespecíficas como dor de cabeça, dor muscular e ou abdominal são freqüentes e correspondem a sentimentos de angústia e sofrimento emocional. Na idade escolar, a criança deprimida, além da tristeza, se mostra irritada e emocionalmente instável. Pode manifestar indiferença afetiva e não ter reação a estímulos, positivos ou negativos. É comum a anedonia com isolamento social e familiar voluntários. Sintomas clássicos como lentidão de movimentos, voz lenta e monótona, e a expressão de sentimentos de desesperança e sofrimento emocional são mais comuns nessa idade, mas é importante ressaltar que agitação psicomotora, hiperatividade e pouco controle dos impulsos também são sintomas freqüentes nessas crianças, fato que pode confundir o diagnóstico quando feito por especialista não experiente no assunto. O aumento da distraibilidade e a dificuldade de memorização são comuns e levam a uma piora do desempenho escolar. Muitos autores dão ênfase à investigação de disforia ou humor irritado. A perturbação de crianças frente a estímulos e a hiper-reatividade hostil e agressiva nem sempre são valorizadas como sendo a expressão de um sofrimento, nessas crianças. Em crianças e adolescentes, as súbitas mudanças de comportamento não justificadas por fatores de estresse são de extrema importância e devem sempre ser valorizadas e investigadas como sendo sintomas potencialmente depressivos. A irritabilidade é um sintoma freqüente, sendo um sintoma realmente comum entre crianças e adolescentes deprimidos. Lamentavelmente, o que se vê na prática diária é o predomínio de reações defensivas e hostis por parte dos familiares, educadores e outros profissionais da área de saúde, que, ignorantes da situação, acabam interpretando a irritabilidade da criança de modo errôneo e simplista, na maioria das vezes.
É sabido que crianças deprimidas têm auto-estima baixa e que falam de si mesmas de modo negativo, se achando ruins, culpadas, fracassadas e preteridas pela família, muitas vezes sentindo que ninguém se preocupa com elas. A relação apetite e peso pode variar. Igualmente, queixas de pesadelos ou de despertares noturnos são freqüentes, bem como insônias. O aumento da distraibilidade e a dificuldade de memorização são comuns e levam a um comprometimento do desenvolvimento escolar, podendo confundir a depressão com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Os adolescentes deprimidos relatam claramente sentimentos depressivos como a desesperança e a dificuldade de concentração e freqüentemente se mostram irritados e hostis e idéias de suicídio ocorrem. Aumento ou diminuição do peso, apetite e da quantidade de sono podem variar, bem como é visto graus variados de falta de energia e desinteresse pelas atividades antes prazerosas. Isolamento social voluntário é freqüente. Igualmente, o uso e abuso de substâncias psicoativas é comumente observado.
Pensamentos de suicídio são encontrados em todas as idades. Cumpre ressaltar que cerca da metade dos casos de transtornos afetivos têm um outro diagnóstico psiquiátrico em comorbidade, como por exemplo, algum tipo de transtorno de ansiedade. A associação desses dois transtornos é tão grande que sintomas de ansiedade na infância podem ser sinal preditivo mais eficiente par depressão do que para transtornos de ansiedade. Estressores psicossociais, presença simultânea de outros transtornos psiquiátricos ou doença crônicas são fatores doença risco para depressão em crianças e adolescentes. O diagnóstico precoce pode mudar o futuro da criança, evitando prejuízos ao desenvolvimento e favorecendo a elaboração de vivencias relacionadas aos transtornos afetivos.
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