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A objectividade nas ciências sociais
(Gunnar Myrdal)

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1) O problema:
A procura da verdade objectiva é a essência da ciência social. O cientista social acredita que a verdade existe, e parte desse pressuposto para tentar atingir o "realismo"; ou seja, uma visão objectiva da realidade.
As questões metodológicas colocam-se na definição do que é a objectividade e das formas de atingir essa objectividade na análise dos factos e das suas relações causais. O cientista debate-se com as seguintes questões: como libertar-se da influência de trabalhos anteriores, fundamentados em noções normativas e teológicas, baseadas em opções metafísicas - filosofia da lei natural e utilitarismo; como libertar-se das influências do meio cultural, económico, político e social da sociedade em que vive; como anular a influência da sua subjectividade própria, formada em contacto com as tradições de um meio social específico e que condicionam a sua história pessoal e inclinações particulares?
Tudo isto tem como pano de fundo a interrogação de como pode o cientista ser objectivo e eficaz na compreensão da realidade e não na sua transformação, ou seja, de como pode atingir a verdade colocando de parte as suas inclinações morais e políticas.
O cientista é influenciado, na procura da verdade, pelo meio social e pela sua personalidade.
A sua única defesa consiste em definir as valorizações que poderão condicionar as suas concepções teóricas e investigações práticas, analisando a sua relevância, significado e efeito no objecto de estudo, adaptando a perspectiva de análise segundo essas premissas;
 
2- Nota do autor
A metodologia das ciências sociais é, na sua maioria, metafísica e pseudo-objectiva.
A crença num conhecimento científico objectivo, independente de elementos metafísicos ou valorações manifesta-se numa forma de "empirismo ingénuo", face à existência de elementos a priori no processo de conhecimento - as valorações.
A divisão rígida das disciplinas de ciências sociais é incorrecta já que as questões não podem ser abordadas separadamente.
Para o cientista, dominar a complexidade dos problemas através dos instrumentos disponíveis implica captar o problema específico do objecto de estudo, melhorando e ampliando os seus conhecimentos , e não cingir-se aos limites das disciplinas tradicionais.
O propósito desta obra é produzir um texto simples que sirva de guia aos estudantes das ciências sociais (ou História, Direito, Teologia, Filosofia,...) na investigação deste problema.
 
3- Valorações, crenças e opiniões:
A ciência não é mais do que o senso comum altamente sofisticado. Há dois tipos de concepções sobre a realidade - crenças e valorações. Estes dois termos combinam-se de modo específico nas "opiniões" das pessoas:
 
3.1- Crenças
Exprimem as nossas ideias sobre como a realidade é ou foi, tendo caractrísticas intelectuais e cognitivas. As crenças procuram atingir o estatuto de conhecimento o que nos permite, nalguns casos, analisar criticamente a validade das mesmas e determinar até que ponto são verdadeiras ou falsas. Uma análise comparativa e objectivadas crenças relativamente a conhecimentos mais elaborados revela-nos as suas deficiências e distorções.
           
3.2- Valorações
Exprimem as nossas ideias sobre como a realidade devia ser ou devia ter sido, e tem um carácter emocional e volitivo. As considerações pessoais acerca de uma determinada situação social -"justa", "injusta", "correcta"- não podem ser objectivamente analisadas e avaliadas como as crenças. Uma análise das crenças mais vulgares mostra-nos que elas estão quase sempre erradas e que são sistematicamente deformadas, principalmente devido à coexistência dessas crenças com zonas de ignorância que faz surgir novos conhecimentos sempre que estas reforçam o processo de racionalização;
 
Conclusão:
Toda a ignorância ou conhecimento tende a ser oportunista já que as pessoas estão interessadas em ocultar as suas valorações inferiores e conservar uma imagem sólida.
 
4 - Exemplos de crenças oportunísticamente distorcidas:
A tendência geral para distorcer as crenças e racionalizar as valorações existe em todos os tipos de relações sociais nas sociedades de todos os tempos.
Na sociedade norte-americana, os brancos do Sul não afirmam claramente a sua opinião acerca dos padrões dominantes da segregação e descriminação contra os negros. Escondem-se na "opinião pública" e nas valorações de outras pessoas de forma a justificarem o estado actual da sociedade.
Os brancos do Sul justificavam o baixo nível pedagógico dos negros nas contribuições baixas desembolsadas pelos negros para as finanças públicas. Os negros, por serem geralmente uma classe pobre a viver maioritariamente em casas alugadas suportavam no entanto cargas fiscais mais elevadas.
Muitos brancos relativamente instruídos (médicos, por exemplo) defendiam haver diferenças físicas entre os brancos e os negros - o odor peculiar, o crânio maior ou o pénis maior.
Os negros, em geral, tinham conhecimento dos resultados científicos que afirmavam não haver grandes diferenças entre brancos e negros relativamente à inteligência e aptidões de uns e de outros, resultados esses desconhecidos de muitos brancos instruídos.
A necessidade psicológica de racionalizar as valorações inferiores origina "estereótipos" e "teorias populares" formadas por crenças complexas e distorcidas, e que procuram ocultar essas valorações - ex. os estudantes suecos de direito da classe média julgavam que a habitação da família sueca rondava os quatro/cinco quartos por habitação, quando na verdade era de dois ou menos quartos por habitação.
Nas teorias populares expressam-se crenças raciais e sociais que formam estereótipos que ocultam determinadas valorações com uma certa carga emocional. Este facto é bem evidente nas concepções populares acerca da política internacional e ficou bem explícito no receio americano contra uma conspiração comunista.



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