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A Cartomante
(Machado de Assis)

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Machado de Assis centrou seu interesse na sondagem psicológica, isto é, buscou compreender os mecanismos que comandam as ações humanas, sejam elas de natureza espiritual ou decorrentes da ação que o meio social exerce sobre cada indivíduo. Tudo temperado com profunda reflexão. O escritor busca inspiração nas ações rotineiras do homem. Penetrando na consciência das personagens para sondar-lhes o funcionamento, Machado mostra, de maneira impiedosa e aguda, a vaidade, a futilidade, a hipocrisia, a ambição, a inveja, a inclinação ao adultério, tudo isso misturado a uma ironia sutil, mas contundente.
De fato, apresentar palavras que não estejam em conexão com os significados apreendidos por uma leitura superficial da linguagem cotidiana promove uma profunda modificação no leitor acostumado a ser conduzido por um narrador em que confia cegamente. O narrador em A Cartomante faz o leitor duvidar. Das personagens, da história, das citações, das palavras, mas principalmente, dele mesmo.
O conto machadiano não cumpre o que promete. Atrai o leitor para uma leitura rápida, mas não lhe concede o prêmio da decodificação completa e serena. Antes, pelo contrário, o narrador o lança em um labirinto onde as palavras possuem vários significados.
Como Machado capta sempre os impulsos contraditórios existentes em qualquer ser humano, torna-se difícil classificar suas personagens em boas ou más. Escolhendo suas personagens entre a burguesia que vive de acordo com o convencionalismo da época, Machado desmascara o jogo das relações sociais, enfatizando o contraste entre essência (o que as personagens são) e aparência (o que as personagens demonstram ser).
O escritor preocupa-se muito mais com a análise das personagens do que com a ação. Por isso, em sua narrativas, pouca coisa "acontece": há poucos fatos em suas histórias, e todos são ligados entre si por reflexões profundas. Outra característica da prosa machadiana é a análise que o autor faz da própria narrativa, o narrador rompe o envolvimento emocional do leitor com a obra proporcionando momentos de reflexão sobre o que está lendo.
            A história e as personagens são peças de suporte. O foco desloca-se para o leitor. Sua reação completará as peças para compor a história.  O narrador tem a voz principal na narrativa e espera que o leitor tenha consciência dessa voz por trás da história, enquanto dissimulador que procurará apresentar situações e palavras que conduzam a um duplo significado. O interesse maior do narrador é que o leitor perceba a possibilidade de vários significados, e não a escolha por um dos sentidos propostos.
A visão de mundo machadiana tem as seguintes características: humor, este tem duas funções: ora visa criticar o ser humano e suas fraquezas, através da ironia, ora demonstra compaixão pelo homem, fazendo o leitor refletir sobre a condição humana; pessimismo, não o angustiado nem desesperador. Tende para  a ironia e propõe a aceitação do prazer relativo que a vida pode oferecer, já que a felicidade absoluta é inatingível.
A ambigüidade da ironia paródica sinaliza para a corrosão do significado único.  As pistas falsas do início de A Cartomante fazem parte das regras do jogo que o narrador estabelece com o leitor. A ambigüidade da citação de Hamlet exigiu que o leitor fizesse uma leitura mais atenta. Houve a transgressão do significado original da frase por meio da ironia do narrador que lhe deslocou o significado. O leitor passa a ter consciência de que tem diante de si um percurso que para ser completado exige o máximo de atenção. O trabalho narrativo exige um papel ativo do leitor e a reconstrução do sentido só é possível com a interação entre o narrador e a percepção do leitor.



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