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O Enigma do Olhar
(Alfredo Bosi)

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O mais recente livro de Alfredo Bosi tem em foco quatro ensaios: dois, recentes e inéditos, e dois publicados na década de setenta e expõe "algumas perplexidades que a releitura do romance machadiano ainda suscita neste seu leitor contumaz".
 Essa perplexidade, o seu "desconforto moral" (sic) diante dos melhores estudos sobre a questão da perspectiva em Machado, constituem a pedra de toque do primeiro e mais recente ensaio, O Enigma do Olhar. Bosi percebe um hiato entre o texto fonte machadiano e suas análises críticas (inclusive, pode-se depreender, as de próprio punho), sendo a intenção de seu texto diminuir "até os limites do possível" tal intervalo, que, já de partida, é dado como "talvez, infranqueável".
Segue-se uma formulação cada vez mais acurada do olhar - "modo existencial de lidar com a perspectiva" - machadiano, a busca da ferramenta exata para caracterizá-lo, onde nenhuma palavra é ingênua:
Olhar tem a vantagem de ser móvel, o que não é o caso, por exemplo, de ponto de vista. O olhar é ora abrangente, ora incisivo. O olhar é ora cognitivo e, no limite definidor, ora é emotivo ou passional. O olho que perscruta e quer saber objetivamente das coisas pode ser também o olho que ri ou chora, ama ou detesta, admira ou despreza. Quem diz olhar diz, implicitamente, tanto inteligência quanto sentimento.
A proposta de Bosi é uma "abordagem flexível, interessada não só no mesmo e no típico, mas também na diferença e singularidade." Isso porque o olhar de Machado pode assumir diferentes formas, ora coincidente com a ideologia de seu meio imediato, ora distanciado e crítico. Machado retrata com fidelidade os tipos característicos da sociedade fluminense do final do século 19. Mas sua compreensão, contudo, não se limitam a esse contexto histórico e geográfico, e seus personagens vão muito além desse jardim.
Temos os tipos, é verdade, mas também a construção elaborada de traços individuais e pessoais. Metáforas e imagens preciosas dão conta da individuação de alguns personagens, que escapam para longe das padronizações, "da vulgaridade dos caracteres."
Entre os protagonistas típicos, "proprietários, funcionários, agregados e escravos," imperam relações marcadas pela assimetria. A "natureza primeira" de cada um (sua "alma interna," constituída por inclinações, desejos e pulsões) mal aparece, quase sempre velada pela "natureza segunda," convenções, hábitos e costumes impostos pelo social: a "alma externa." O segundo ensaio aprofunda-se neste tema, enfatizando o jogo entre essências e aparências, vícios que se apresentam com a cara de virtudes graças a cálculos habilidosos, hipocrisia, arrogância e demais artifícios: "É preciso olhar para a máscara e para o fundo dos olhos que o corte da máscara permite entrever. Esse jogo tem um nome bem conhecido: chama-se humor," afirma Bosi, concluindo o artigo "A máscara e a fenda".
Bosi aponta a sutileza que destaca-se no olhar machadiano: mesmo diante da cena minuciosamente descrita de um comportamento abominável, não surge a condenação moral esperada, tantas vezes automática. Impassivelmente, Machado mostra e atenua, "morde e assopra," como que aceitando a inevitabilidade de tais manifestações da alma humana. Essa postura, lembra o autor, seria fatalista e conformista, não fossem o sarcasmo e escárnio, venenos aí instilados; seria também frouxidão, não fossem os opostos mantidos em sua mais dura integridade, e com muita fineza. O Conselheiro Aires é o personagem em que estas características mais se sobressaem, e é o objeto do ensaio "Uma figura machadiana". É ele quem abriga, por excelência, o traço tão digno do Bruxo do Cosme Velho, de "terrorista que precisa fingir-se de diplomata, ou o do diplomata que não esquece a sua outra metade, oculta, de terrorista."
Quanto ao estilístico, Bosi coteja Machado e Raul Pompéia, Euclides da Cunha, Cruz e Souza, - e na geração seguinte, Augusto dos Anjos e Lima Barreto. Os modos de dizer machadianos contrastam com a expressão torturada destes seus brilhantes contemporâneos que, diz o autor, viveram dramaticamente as contradições entre as promessas do evolucionismo e as duras realidades de nosso final do século; evolucionistas e materialistas, levaram ao extremo "a denúncia da iniqüidade ora patente, ora latente nas relações sociais e raciais de um Brasil cujas elites, porém, não dispunham de outra retórica senão a do progresso linear." Machado não crê no evolucionismo: seu estilo formalmente ameno, salpicado de ironia, é indiferente às promessas da modernização ideológica. O tempo lhe deu razão no que tange às "novas idéias" como meio privilegiado de extinguir as vilezas da injustiça, da violência e da impostura; contudo não é possível classificá-lo como meramente conservador. Para finalizar, no último item que compõe o livro, "Materiais para uma genealogia do olhar machadiano," Bosi generosamente organiza uma coletânea de textos de autores, tais como Maquiavel, Adam Smith, Matias Aires, Schopenhauer, entre outros, incluindo-se trechos da Bíblia nesta seleção. Todos esses elementos têm como objetivo nos auxiliar a entender o olhar de Machado, seus critérios éticos e estéticos. Ou, nas palavras do autor:
O que apresento a seguir são fragmentos significativos, balizas de um pensamento de que Machado nos deu uma singular e complexa variante. A qual tem, para nós brasileiros, a força peculiaríssima de revelar um passado que o nosso presente está longe de ter sepultado.



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