Revolução dos Bichos
(George Orwell)
Eis aí o início de uma fábula contemporânea. Analisem e interpretem o romance como uma metáfora da Revolução Russa de 1917, metáfora essa na qual o romancista revela uma aversão a toda espécie de autoritarismo, seja ele familiar, comunitário, estatal, capitalista ou comunista.
A "Revolução do Bichos" foi escrito no ápice do regime stalinista, 1945. Na época foi considerado um livro anti-comunista e usado de propaganda pelo sistema capitalista contra as idéias da URSS. Porém, Orwell declarou que não tinha a intenção de criticar um regime em especial, de forma partidária, mas sim todo e qualquer tipo de regime totalitário que corrompesse os direitos democráticos de um povo.
O livro é uma alegoria á Revolução Russa que se transformou em uma ditadura sangüinária, mas também aos sistemas populistas do Brasil, por exemplo, quando Getúlio Vargas ou os militares, com uma propaganda upótica de crescimento e distribuição de renda para o país, alcançaram o poder e quando lá estavam, fizeram o contrário; ou como o atual quadro de repressão e falsa propaganda que nós pudemos presenciar na China durante as Olimpíadas, onde houve uma relação muito parecida com o regime de Stálin (uma revolução socialista, baseada nas idéias utópicas de Mao-Tsé) e o governo do "porcos" ainda continua nos dias de hoje, tanto é, que o livro de Orwell é expressamente proibido neste país. Mas de qualquer forma, como essa alegoria foi feita?
A fábula se passa na fazenda do Sr. Jones, um homem despreocupado com os deveres de fazendeiro e viciado em bebida. Nada diferente do czar russo, Nicolau II, que era publicamente conhecido por beber em excesso e ter um descaso imenso com a população, que em 1917 passou por uma crise de fome que desembocou na revolução popular.
E foi isso que aconteceu com o Sr. Jones. Os animais, depois de escutarem um discurso inflamado e emocionante do velho Major (uma mistura de Karl Marx, com seus ideais igualitários e Lênin, idealizador da revolução) e passarem fome por conta do descaso do dono da fazenda, resolvem se unir, expulsar os homens e tomar o poder da granja. E foi a partir dai que o que parecia ter tomado o caminho da igualdade, desviou-se para outro totalitarismo, tal qual o anterior.
Após a expulsão, os porcos (por se auto-denominarem "mais inteligentes"), assumiram as decisões da granja.
Primeiro houve uma disputa de poder, entre dois porcos: Bola-de-Neve e Napoleão: este, partidário do totalitarismo, foi criado para representar Stálin, o mais sangüinário dos líderes soviéticos e o outro tem destino similar ao de Tróski, transformando-se, á custa de muita propaganda, no "inimigo da revolução", e expulso da fazenda pelos cães de guarda de Napoleão (famosa KGB, política de repressão soviética).
A partir daí, o cenário de um lugar ideal começa a transformar-se no mesmo quadro da época do Sr. Jones: trabalho em excesso, pouca comida, repressão violenta, enfim, tudo aquilo que o finado Major havia associado exclusivamente ao homem, estava se repetindo nas patas de Napoleão.
Além das associações políticas presentes no livro, há tempo á alusão ao proletariado soviético, que era manipulado pelo poder a doar a sua força em prol do bem da sociedade. No livro, essa classe é expressada por Sansão, que acreditava nas promessas de Napoleão e trabalhava arduamente na construção do moinho de vento (alegoria dos planos qüinqüenais de Stálin que nunca foram realizados) e que no fim foi traído e morto, após se tornar inútil para trabalhar,ou por Quitéria, uma égua ignorante que era facilmente manipulada pelos homens e por Napoleão ou então as ovelhas, que apenas repetiam o que o porta-voz de Napoleão ,Garganta (alusão a uma espécie de Pravda - um jornal usado pelos ditadores soviéticos para divulgar a propaganda falsa do governo) discursava.
Por fim a situação na fazenda volta ao começo: os porcos, sob o domínio de Napoleão, se reaproximam dos homens para fazer comércio (critica ao capitalismo), passam a morar na casa da fazenda, se vestem como os humanos até o momento final em que durante uma reunião de negócios entre porcos e homens, uma cadela (Lulu) confunde a visão dos dois "animais", afirmando que ambos pareciam ser a mesma coisa, ou seja, a Revolução Russa, que no seu início foi inspirada por ideais igualitários foi aos poucos corrompida por aqueles que exerciam o poder, este sim o verdadeiro mal dos homens (e animais, no caso da fábula).
George Orwell conseguiu com essa fábula, aquilo que Ítalo Calvino classifica como um clássico, aqueles livros dos quais, em geral, se ouve dizer:"Estou relendo..." e nunca "Estou lendo...", ou seja, Rovolução do Bichos teve uma repercussão com a realidade da época em 1945, mas ainda hoje nós podemos relê-lo e aplicá-lo em tudo o que nele está a nossa própria realidade: a manipulação de informações por parte dos governos em prol de seus interesses ou a tão sonhada igualdade social, prevista por Marx e pelo velho Major, que ainda não chegou.
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