Oscar Araripe por José Paulo Moreira da Fonseca
(José Paulo Moreira da Fonseca)
Livro vertiginoso, meio estranho, estrangeiro dirá o silêncio de quem principia a ler as páginas de Maria na Terra de Meus Olhos. Mas, talvez, continuando a caminhada você descubra que a mistura do simplesmente visual e de farrapos de narração e de emoções e ainda de idéias compõem música fiel à fluência sem pausa da sua vida. E, consequentemente, esvai-se a estranheza e você sente que o estrangeiro não veio de longe, mas de bem perto, que é você mesmo, consciente da figura de Maria, das metamorfoses nas quais ela fosforescente flutua.
Livro fiel ao tempo, livro de mudanças súbitas ou lentas, livro no qual o fio condutor é o seu ser que vai se reunindo ao seu múltiplo estar.
Talvez você não entenda esta ou aquela passagem, mas acaso você se entende inteiramente? Talvez você goste num momento e não goste no outro, ou ainda não saiba se gosta ou não gosta. Mas, na sua vida não se dá o mesmo?
lIvro fantástico, irreal para aqueles que se sonham nítidos e tangíveis como um cinzeiro de vidro ou um limão verde. Livro extremamente realista para outros, que verão Oscar Araripe tentando a difícil aventura de retratar o invisível rio da vida, menos do que um rio e mais do que um rio, na sua leveza de vento, de sopro que serena ou inquietamente vai viajando sobre o abismo. E neste vôo as asas são as palavras firmando uma aliança com aquele ilimitado silêncio do ar.
Julho de 1975 / Rio de Janeiro.
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