Vidas SEPARADAS - (PARTE II)
(Cathy Free)
Quando o quarto aniversário das meninas se aproximou, os pais mal podiam esperar o dia em que pudessem ser separadas. Aconteceu algo ainda mais improvável que ter gêmeos xipófagos: como uma em cada sete milhões de mães, Erin engravidou de gêmeos novamente. Não poderia doar o rim a Maliyah até se recuperar do parto, entretanto teria de fazer hemodiálise durante meses até se recuperar o bastante para receber o rim da mãe. Mais operações seriam necessárias para reconstruir o corpo das gêmeas. Seria necessário fazê-las passar por tantas dificuldades?
A Dra. Meyers não sabia dizer ao certo. Ainda assim, explicou a Erin e Jake que não fazer nada também era arriscado.
“Até agora, as meninas viveram bem com um só rim”, disse ela. “Mas, se começarem a crescer depressa, o órgão ficará sobrecarregado.”
Consultaram psicólogos infantis e especialistas em ética médica. Pediram conselhos a um grupo de apooio para pais de gêmeos xifópagos na Internet, com integrantes nos Estados Unidos e Austrália.
Embora não quisessem sobrecarregar as meninas com a decisão, as gêmeas acabaram decicindo.
“Quer dizer que vou poder brincar no computador enquanto Maliyah brinca de Barbie no outro quarto?” perguntou Kendra, num dia em que Erin puxou o assunto. “E vamos poder dormir em cama separadas?”, acrescentou Maliyah.
Erin fez que sim, e as gêmeas riram, alegres.
O dia do corte, como diziam as meninas, foi marcado: 7 de agosto de 2006. Dois meses antes da cirurgia, Kendra e Maliyah foram internadas no Centro Infantil, onde os médicos inseriram em seu tronco balões expansores, que a cada semana recebiam um pouco mais de solução salina. Artefatos, muito usados em cirurgia reconstrutora, esticavam a pele, a fim de que ela se dilatasse o suficiente par cobrir os tecidos que ficariam expostos com a separação. As gêmeas dormiam num colchão de areia macia.
Prepará-las psicologicamente também era importante. Erin fez uma corrente comprida de papel, para que pudessem fazer a contagem regressiva do grande dia. Os orientadores do hospital deram a cada uma um par de bonecas costuradas, que poderiam separar quando se sentissem prontas. Kendra separou as dela na mesma hora; Maliyah esperou até pouco antes da cirurgia.
A equipe do hospital decorara o corredor com cartazes que reforçavam a individualidade das meninas, para quando fossem ao centro cirúrgico dia 7 de agosto às 7hs da manhã, a maca ia parando em cada cartaz, transformando o caminho num tipo de caça ao tesouro.
Entretanto no último instante, começaram a chorar, sendo o momento mais difícil para os pais que as tranqilizaram, escondendo a própria ansiedade.
“Separar gêmeas xifópagos nunca é fácil”, diz o Dr. Michael Matlak, um dos cirurgiões que operaram as meninas, sempre há a possibilidade de algo dar errado.
A equipe tinha seis cirurgiões, cinco outros especialistas e mais de 25 enfermeiras e técnicos.
A Dra. Meyers atuando como diretora, levaram 16 horas para dividir o tronco das meninas, refazer o sistema circulatório e dar, a cada uma, parte do fígado e dos intestinos. Pouco depois da meia noite, a equipe se dividiu em dois grupos: o de Maliyah, encabeçado pelo Dr. Bradford Rockwell e o de Kendra, pelo Dr. Matlak.
“Meu Deus, o que fizemos?”, exclamou o Dr. Matlak quando viu o rasgo imenso as gêmeas estavam unidas. O cirurgião pediátrico já realizara meia dúzia de separações, nunca tivera de enfrentar cortes tão grandes. Não tinha certeza que houvesse pele suficiente em Kendra.
Os colegas calaram-se e o Dr. Matlak saiu para se recompor.
Nas 10hs seguintes, as duas equipes trabalharam ao mesmo tempo na reconstrução da pelve e parede abdominal. Houve pele suficiente para cobrir as incisões, em Kendra foi por pouco.
Às 9h30 da manhã seguinte, as gêmeas dormiam na UTI, pela primeira vez em camas separadas. As enfermeiras juntaram as camas, para que quando acordassem pudessem se dar as mãos.
A Dra. Meyers verificou os sinais vitais das meninas; espantou-se ao ver que a pressão arterial e os batimentos cardíacos ainda eram idênticos.
“Os gêmeos têm uma ligação especial”, disse ela. “Não há dúvida disso.”
O sofrimento das gêmeas não tinha acabado. Ficaram mais 12 semanas no hospital. Maliyah tinha de fazer hemodiálise três dias por semana, deixando-a tão mal que tinha alucinações, Kendra teve obstrução intestinal , sendo operada. Nas incisões a pele começou a retrair exigindo tratamento com aspiradores especiais, sugando tecidos mortos e estimulando a regeneração.
Em 2007, Maliyah poderia receber o rim da mãe, o casal estava emocionalmente esgotado, as meninas tinham chegado à beira da morte.
O transplante foi bem sucedido, mas só com o tempo responderá à pergunta que persegue os Harrins: todo o sofrimento das gêmeas valeu a pena?
Fonte: Seleções/março/2009
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