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O grande fiasco do Círculo de Fogo
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      Há alguns anos atrás teve grande divulgação o filme "O círculo de fogo", uma tradução arranjada de "Enemy at the gates", lançado nos EUA pela Paramount Pictures. Este filme deveria ser encaixado no gênero comédia, romance ou mesmo trash. De fato, faz-se necessário reconhecer o mérito de seus produtores em publicar o que foi talvez um dos maiores trabalhos de falsificação da história. 

      O círculo de fogo obteve uma avaliação negativa na maioria dos países da ex-URSS, veteranos e até a família de Vassiliy Zaytsev conseguiram impedir sua estréia em alguns cinemas russos por razões que, como de praxe, não foi publicada na imprensa lusófona. Façamos a sua radiografia.

     Um filme de um país sobre outro requer no mínimo uma pesquisa séria e responsável, porém logo no início do filme os militares que combateram o nazismo, tendo já rechaçado o imperialismo hitlerista às portas de Moscou e mesmo demonstrado exemplos de resistência em lugares como o Brest, são retratados como covardes ansiosos pela deserção, sendo trancados em vagões. Um desses conscritos é V. Zaytsev, que na realidade já era sargento Infante Naval desde 1936, ele e muitos de seus companheiros alistaram-se voluntários no Exército a fim de vingar-se dos marinheiros de Sevastopol, derrotados pelos nazistas. Mais tarde este homem, formado em Biblioteconomia em Magnitogorsk, é retratado preconceituosamente como analfabeto, por seu passado obreiro.

      As cenas que se seguem são absolutamente fictícias, talvez plagiadas de "O resgate do soldado Ryan", onde soldados fazem uma travessia suicida em barcas. Esse momento não tem nenhum paralelo na história, sendo uma distorção de uma travessia feita pela noite sob fogo da artilharia alemã. Após esta cena, pseudo-soldados são informados de que há um rifle por cada 3 homens e que os outros 2 recebem apenas munições, dando início à parte comédia do filme. Ora, um fuzil era a primeira coisa que mesmo um voluntário civil recebia ao se alistar, muitos civis eram mesmo treinados para ações militares em parques públicos e operários muitas vezes faziam fuzis improvisados nas fábricas, como bem atestado pela jornalista A. L. Strong, que viveu 15 anos na URSS. Mesmo nos porões do Exército, haviam velhos Moisins-Nagants, talvez mais fuzis do que em qualquer exército no mundo.

      Subsequente à referida cena bizarra, os pseudo-soldados atacam e os que recuam são executados por oficiais. De fato, a penalização de desertores existia no Exército Vermelho, como em todos os exércitos do mundo, porém desertores reais e não soldados que recuavam. Segundo V. Suvorov, um desertor soviético famoso no ocidente, haviam "Batalhões Penais" onde desertores faziam atividades mais perigosas como limpar minas terrestres, dentre outras, nunca eram executados diretamente em combate. Após a evidente derrota soviética, os alemães simplesmente se retiram na batalha, ao invés de avançar(o que seria lógico em uma guerra).

      Mal escrito, logo após essa ficção, Danílov, o "oficial político" sem barba feita, vem de carro das linhas alemães, sendo ferido não fatalmente, até encontrar um fuzil no chão e fazer a Vassiliy Zaytsev a pergunta mais estúpida de todos os filmes de guerra já feitos na história: "você sabe atirar?" Se algum real militar ou mesmo observador atento assistiu a esse filme e se colocou no papel de Vassili, deve ter perguntado mentalmente: "que diabos você acha que eu estaria fazendo no Exército se não soubesse atirar?". Como bem dito por um comentador do IMDB, em todos os exércitos do mundo, é parte do treinamento básico do soldado aprender a atirar de fuzil, nem que seja pelo menos com um simulacro de fuzil, assim como também faz parte desse mesmo treino a desmontagem e zelo por este, em uma instituição militar até um cozinheiro aprende a atirar de fuzil. Seguindo-se esse diálogo ledo, Zaytsev mata 5 fascistas, inclusive um alto oficial que resolveu ir tomar banho em um lugar que acabou de ser atacado por soldados soviéticos e um soldado que resolveu jogar uma granada contra inimigos situados a menos de 10m de distância, embora portasse uma submetralhadora MP-40.

      Quando então Khruschov chega de forma quixotesca em Stalingrado de casaco de lã num dos meses mais quentes dessa cidade(setembro), há aí mais uma tentativa cabal de reescrever a história. Khruschov jamais comandou operações militares em Stalingrado, apenas se limitara a comandar a evacuação de civis antes da batalha começar, seus reais comandantes foram Yeremenko(depois promovido a Marechal) e Vassili Chuykov, especialista em combates urbanos veterano de Madri, ex-acessor de Chiang Kai Shek na Manchúria(onde derrotou os japoneses usando coquetéis Molotov e velhos fuzis), que comandou tropas até Berlim. No filme, entretanto, o comandante é um general choramingo que se queixa de "não ter aviões e tanques..." como os alemães, embora nesta época voasse sobre Stalingrado Ivan Kozhedub(o maior ase dentre os aliados) e a "Rosa branca de Stalingrado(Lilya Litvyak)", aviadora conhecida por façanhas lendárias, bem como os tanques T-35, mais tarde retratados ligeiramente no filme. 

      O resto é apenas um novelão de um triângulo amoroso entre Vassili, Danílov e Tanya Chernova, tendo a guerra apenas como pano de fundo, num cenário tão próximo do real quanto o cenário do Capitão Sky(ironicamente, também estrelado por Jude Law). Há que se reconhecer neste filme uma boa direção, porém foi pessimamente escrito, numa tentativa grotesca e difamante de reescrever a história de um povo que sentiu na pele os piores horrores da Segunda Guerra Mundial, tenham agido seus escritores por má-fé ou incompetência.



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