A GATA E O PAPAGAIO - FÁBULAS
(ESOPO)
As traduções antigas, ao pé da letra, das fábulas de Esopo, muitas vezes não possuem hoje o sentido que lhe davam na época. Nesta, um papagaio é adquirido por um senhor dono da gatinha há mais tempo, e da qual exigia silêncio pois seus miados lhe incomodavam. Imagine como ficou furiosa a gatinha ao chegar o papagaio que fala e repete tudo que ouve. Segundo os tradutores literais, a gatinha teria admoestado o papagaio, reclamando apenas de tanto falatório e os comentadores ligam esse confronto à situação dos críticos inconvenientes que temos por toda nossa vida social. Conhecemos outras versões, uma delas atribuida a La Fontaine, onde a gata ataca e devora o papagaio e depois se justifica com o dono do papagaio dizendo: "ele repetia a voz do senhor dizendo palavrões e eu fui dar-lhe uma repreensão e ele me atacou..." (Vejam que este fabulista faz a gatinha chamar a atenção do dono, lembrando que ele diz palavrões). Outra, ampliando essa, introduz um cachorro que passa a ser chamado por assobio, falando repetidas vezes as frases que ouve o dono gritar "pega ladrão!""que vida boa de cachorro!" Um dia ele perde a paciência e ataca o pássaro inconveniente e lhe arranca as penas. Ele não consegue voar e acaba sendo morto pela gatinha. Mais uma variante dessa ampliação conta que o cachorro chegou atrasado e a gata já havia comido quase toda a carne e rosnou afastando a gata. Estava acabando o banquete quando chegou o dono! E é claro!... Foi o cachorro que levou umas boas cacetadas. Assim de ponto em ponto, aumenta o conto, que acaba bem mais longo. Podemos ainda contar que o cachorro reclamou da gatinha que fugiu para o telhado e não apanhou, quando foi ela quem matou o papagaio. Podemos adivinhar uma resposta da gatinha - "Mal agradecido! Dexei para você os ossos que você gosta e lhe adiantei o serviço, pois você ia matá-lo mesmo e eu o fiz por você!" Mas, voltemos ao interesse pela lição que estaria por trás dessa fábula. É pacífico que o papagaio vai ser ligado sempre às inconvenientes repetições das palavras que ouve. Serão assim mil piadas que se inventarão misturando situações novas com palavras que o papagaio acostumou a repetir e o crítico que ali as coloca deu nova feição mais picante. Imaginem na política. "Eu não sabia de nada!" "Relaxe e goze!" "Eu fui eleito pela maioria e não tenho que dar satisfações!" Lembrem de Robinho comentando que alguém teria falado algo e saíu com o óbvio: "Papagaio também fala, mas ele também não sabe o que diz". (Prestem atenção a esse inteligente "também"). E por fim pensem nas críticas indevidas e nos cães e gatos brigando para ver quem mata o papagaio. Nesta linha de pensamento, Voltaire, rei da crítica inteligente, faz o mais ferino comentário a respeito do jornalismo mentiroso, ao desnudar o poder da repetição (papagaio!) humorística - "Minta! Minta sempre! Alguma mentira há de pegar!" "Uma boa gargalhada pode derrubar um trono!" Agora, pegue o bico de sua esferográfica ou seu lápis e comece a contar quanto quiser, e ponha no bico do papagaio que pode dar falatório, "piada", "miada"... Mas, cuidado com gatos e cachorros atentos para vingar...
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