Enigmas da Culpa
(Moacyr Scliar)
E se naquele dia eu tivesse agido diferente? E se tivesse ido por outro caminho, se dissesse aquela palavra que tanto queria dizer, ou se não tivesse sido teimoso? Repare. Sem culpa, este tempo verbal não teria a menor graça.
A culpa se senta como um urubu nos ombros de todos nós. Todos nós? Sim, todos. Ninguém está livre de sentir culpa ela é inerente a nossa vida.
É lógico que há quem se sinta mais ou menos culpado. E também há jeitos e jeitos de lidar com esse sentimento. A culpa pode se converter em um substantivo bastante construtivo: a responsabilidade.
A culpa é um sentimento que parte de alguém que transgrediu (ou acha que transgrediu) alguma norma, seja ela social, seja legal, moral, ética ou religiosa. É a violação de alguma regra que pode ou não ter causado dano a alguém.
Somente por sentirmos culpa é que aceitamos as regras impostas pela cultura. A culpa acaba estabelecendo limites e possibilita o convívio. E regras existem em todas as sociedades, desde que o mundo é mundo concordemos ou não com elas.
Se tomamos uma atitude, foi porque acreditamos que era o melhor a ser feito naquele momento. Agimos de acordo com os instrumentos que tínhamos para agir. A dificuldade se autoperdoar faz com que uma das culpas mais freqüentes seja o ressentimento por coisas que não foram realizadas na hora certa e no momento exato
Doentes de culpa são pessoas que costumam se sentir culpadas o tempo todo, de forma neurótica. A depressão é a doença mais comum dos culpados crônicos. O remorso também pode, em alguns extremos, levar ao alcoolismo e ao consumo de drogas. E, para tratar tais sintomas, é preciso chegar à fonte do problema, ou seja, à culpa.
Culpa não é uma emoção passageira. Qual a diferença entre uma coisa e outra? A emoção é algo mais primitivo, surge mais espontaneamente no ser humano. Mas costuma ser transitória, passa logo. Arroubos de paixão podem ser um bom exemplo de emoção. Sem contar que a emoção é uma sensação visível: alguém apaixonado fica ruborizado ao ver o objeto de sua paixão. Já o sentimento é outra história. Ele é pautado pela cultura, pelo modo de vida e pelo aprendizado social. Aprendemos a ter sentimentos no decorrer da vida com pais, professores, amigos, líderes espirituais. Assim, vamos aprendendo a sentir culpa, cada vez mais e mais. Por isso ela acaba se enraizando. Na dose certa, ela demarca os limites do que podemos ou não fazer, dos nossos valores, daquilo que consideramos ético e justo. Apenas pessoas com distúrbios de caráter são capazes de infringir regras sem sentir o mínimo arrependimento.
Quem assume uma responsabilidade está tirando a culpa da sombra, está jogando esse sentimento para fora. Aprenda com o que aconteceu. Identifique que o erro e procure evitá-lo numa próxima vez. Não fique remexendo o passado e querendo voltar àquilo que já foi feito
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