Formação Continuada: interação e reflexão via projeto de leitura
(Márcia Elizabeti Machado de Lima; Eliane Maria Viana da Costa Ferreira)
Formação Continuada: Interação e Reflexão Via Projeto de Leitura
A partir das nossas experiências como professoras formadoras do Centro de Formação dos Profissionais da Educação Básica, na Área de Linguagem, e das necessidades formativas apontadas por professores, em todas as oportunidades em que indagamos sobre as prioridades a serem trabalhadas nos encontros de formação continuada, das queixas dos professores de Língua Portuguesa por serem considerados os únicos responsáveis pela formação de alunos leitores, e culpados por todos os “erros” de grafia, percebidos pelos docentes das outras áreas, é que o propusemos o projeto, que ora é tomado como objeto de reflexão, neste texto.
Com o objetivo geral de “Implementar a formação continuada das escolas estaduais de Cáceres, tendo como prioridade atender à urgente necessidade formativa, de tecer reflexões didático-pedagógicas voltadas à leitura e à escrita, como competência de todas as áreas do conhecimento.”, o projeto Habilidades e Competências de Leitura e Escrita: uma necessidade formativa em todas as áreas teve início no ano letivo de 2007, no espaço do CEFAPRO, com a participação de professores da Rede Estadual e Municipal, do município de Cáceres, em concordância com Neves, que defende: “Professores leitores, professores capazes de fazer a sua escrita, a sua comunicação com o mundo são a chave de qualquer possibilidade de mudança nas práticas tradicionais e repetitivas de leitura e de escrita.” (2001: 12).
Com o olhar voltado às reais necessidades dos docentes, que se traduzem em necessidades dos discentes, acompanhando o pensamento de Freire (1996), para quem não há docência sem discência, a equipe, deste Centro, se engajou no referido trabalho, do qual já temos colhido alguns frutos, e que se mostrou tão produtivo que, demos continuidade no ano letivo de 2008.
Pretendemos apresentar, algumas reflexões a respeito do referido projeto, com foco nas atividades da Área de Linguagem. Optamos, na introdução dos trabalhos, por fazer uma discussão sobre leitura, tomando de empréstimo um questionamento feito por Goulart (1999), com a interrogação sobre O que temos lido ultimamente? Assim, realizamos, junto aos professores participantes do projeto, uma roda de socialização de leituras de livros e filmes, em que cada um teve a oportunidade de destacar as leituras realizadas, tanto no âmbito das salas de aula, com seus alunos quanto fora do universo profissional, revelando gostos pelos mais diversificados gêneros de livros e filmes.
Avaliamos esse momento bastante produtivo no sentido da troca de indicação de títulos, de experiências vividas por meio da leitura de obras literárias, de produções cinematográficas bem realizadas, de pensadores que tratam do tema Educação de forma crítica e sensível. Tudo isso, segundo Goulart nos “une e nos diversifica” (1999:100), “Ler é construir significados quanto mais lemos maior é a rede de sentidos que podemos tecer.” (1994:59). Ressaltamos, a importância do evento para despertar naqueles que não cultivam o hábito da leitura, o desejo de viverem tais experiências, que consideramos como indispensável ao crescimento dos educadores.
Convidamos Goulart a deixar um recado àqueles que não estão nesse circuito: “É preciso recuperar em nossas vidas (aqueles que perderam, ou nunca tiveram) a leitura como uma atividade de múltiplas funções para poder partilhar com a criança o prazer e a necessidade de ler” (1999:94). E acrescentamos, além da criança, o adolescente, o jovem, o adulto. A leitura além de proporcionar entretenimento, conhecimento, prazer, é sempre um exercício mental, e em tempos de culto ao exercício do corpo, muitos se esquecem da necessidade do exercício da mente, fundamental para não envelhecermos precocemente.
Acreditamos que seja pertinente externarmos, neste espaço, que essa metodologia nos possibilitou a observação de um grande número de referência dos professores à leitura de obras classificadas como best sellers de auto-ajuda, um fato passível de diversas interpretações, que destacamos, entre outras, duas possibilidades: a facilidade de leitura que essas obras oferecem, pela própria simplicidade de estrutura textual e a baixa auto-estima dos profissionais da educação, tão discutida pelos teóricos-críticos da área, que talvez faça com que procurem afirmação em leituras dessa natureza. E, sobre a problemática da baixa auto-estima, arriscamo-nos a levantar uma das causas, apoiando-nos em Lima, quando aborda o “... contexto que exige, cada vez mais, que estejamos antenados a esse mundo chamado de pós-moderno, globalizado, em que, por mais que nos esforcemos, vivemos, sempre, a sensação de incapacidade de acompanharmos o ritmo frenético desse mundo.” (2007:01).
. Amparadas nos pressupostos de Marcuschi que orientam o trabalho com os gêneros textuais como o caminho mais produtivo, e que dependendo das escolhas do professor, pode ser inclusive, prazeroso, salientando que “... é impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum gênero, assim como é impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum texto. (...) partimos da idéia de que a comunicação verbal só é possível por algum gênero textual.” (2007:22), retomamos os estudos com a exibição do filme Escritores da Liberdade, um longa do gênero drama, do ano 2007, do diretor Richard LaGravenese, uma narrativa envolvente sobre uma experiência que pode ser lida como didático-pedagógica, em um contexto de sala de aula com um grupo de alunos indisciplinados, marginalizados pela condição social. Nesta obra, a personagem-professora motivada pela leitura do Diário de Anne Frank desenvolve um projeto de leitura e escrita que transforma o cotidiano da sala de aula, e o que é mais importante, auxilia no processo de transformação da realidade dos educandos.
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