Fragmentos de um Discurso Amoroso
(Roland Barthes)
Fragmentos de um Discurso Amoroso é um daqueles livros que temos que ter ao alcance das mãos quando nos apaixonamos. Seu autor sabiamente o escreveu à semelhança de um dicionário, contendo termos relacionados aos enamorados em ordem alfabética. Traduzido do francês para o português, o texto é recheado de citações que vão de Platão a Nietzsche, passando por Freud e muitos outros autores significativos da psicanálise, juntando-se ao Zen e discursos místicos, tendo como pedra fundamental o livro Werther de Goethe. De início essa mistura de referências pode causar estranhamento e não fazer sentido, mas o brilhantismo de Roland Barthes conseguiu captar a essência de cada autor em relação ao tema ‘amor’. A idéia era dar visibilidade ao discurso amoroso que, segundo Barthes, estava à margem da literatura de seu tempo. Considerado piegas e ultrapassado à época, o discurso amoroso depois de passar pela releitura desse autor, ressurge majestoso e absolutamente tocante. Somente o contato com o texto poderá comprovar o que afirmo nesta análise.
No prefácio há uma espécie de manual de instrução para a leitura. Recomendo que o leitor se dedique com atenção às instruções antes de se envolver com o conteúdo do corpo do livro.
Impressiona a identificação criada com os leitores apaixonados e vale à pena reler o texto em várias fases da vida, em diferentes estágios da paixão e fora dela. Os sentimentos, sensações, pensamentos e divagações apresentados no texto nos remetem a nossos conteúdos internos e nos conecta com o autor de um modo intenso. Em alguns trechos podemos nos emocionar e chorar, em outros conseguimos rir de nós mesmos e em muitos refletimos sobre como somos culturalmente condicionados, já que a experiência que deveria ser íntima está ali representada como um fenômeno que atinge a todos, independente de idade e gênero.
É incrível que o texto consiga nos salvar da solidão amorosa e isso independe do fato de sermos ou não correspondidos no amor.
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