O Segredo de Joe Gould
(Joseph Mitchell)
Joseph Mitchel era um repórter jornalístico que gostava de retratar os anônimos, mostrando o quanto a vida considerada banal pode ser extraordinária. Sua série de entrevistas com o boêmio Joe Gould no início da década de 1940 resultou na publicação de um artigo na revista The New Yorker intitulado "O Professor Gaivota". Gould, que aparentava ter quase 70 anos, na época tinha apemas 53. De baixa estatura, longa cabeleira crespa e barba densa, vestindo roupas doadas, sempre em tamanho maior que sua numeração, com precária higiene pessoal, o boêmio circulava nas altar rodas culturais da cidade. Ganhou diversos apelidos e o mais conhecido deles - professor gaivota - devia-se a uma performance que costumava fazer em festas e eventos sociais imitando uma gaivota e falando "gaivotês". Gould afirmava poder compreender a linguagem das gaivotas e comunicar-se com elas.
Apesar de parecer um vagabundo que filosofava ao léu, o boêmio trabalhava diariamente escrevendo um livro que denominava "Uma história oral de nossa época". Segundo seus relatos, a obra era onze vezes maior que a Bíblia e contava com cerca de nove milhões de palavras. Era um registro de tudo o que Gould via e ouvia. Essa dedicação maravilhou Joseph Mitchel, que passou vários anos de sua vida convivendo com Gould, tornando-se uma espécie de ouvinte, parente e referência para aquele homem que carecia de atenção e do suprimento de suas necessidades básicas.
O livro divide-se em duas partes, sendo a primeira o texto integral da citada reportagem publicada na revista em 1942 e a segunda um depoimento mais extenso de Mitchel sobre seu longo contato com Gould durante o tempo em que o entrevistou e nos anos seguintes, passando por um afastamento entre os dois quando Mitchel descobre sem querer um grande segredo de Gould, até a morte deste último em 1957.
Tratam-se de dois textos bem diferentes, traçando dois perfis de um mesmo homem. A sensibilidade de Mitchel e sua notável habilidade em descrever seus contatos com o boêmio novaiorquino fazem com que o contato do leitor com o que poderia ser considerado corriqueiro ou mesmo trivial transforme-se em uma verdadeira obra de arte.
Uma das passagens mais emocionantes do livro trata do período em que Gould recebeu um patrocínio anônimo durante alguns anos. A benfeitora não queria revelar sua identidade e doava uma quantia mensal que garantia ao boêmio hospedagem modesta, alimentação e outros produtos básicos. Intrigado com o anonimato do patrocinador, Gould passou algum tempo desconfortável com a situação e tentou de diversas formas descobrir quem estava por trás da boa ação. Passados alguns anos, quando Gould já havia se conformado com o mistério, sem dar nenhuma explicação, a mulher parou de enviar o patrocínio. Essa atitude deixou o boêmio amargurado e ainda mais infeliz do que quando não conseguia descobrir de onde vinha o dinheiro. Além de nunca ter sabido quem o ajudara, Gould também ficou sem pistas sobre os motivos que levaram à suspensão do suporte financeiro.
O segredo, do qual o livro trata, chega a surpreender. Vale a pena ler para ter contato direto com a história e entender melhor todos os detalhes que enriquecem sua narrativa.
Resumos Relacionados
- Rocks Of Sges
- Miss Misery: Um Romance
- A Falsa Medida Do Homem
- O Diamante Gould
- Paleontologia - Um Zoo Do Absurdo
|
|