O Poder Mágico da Gentileza
(Ana Braga // Diario)
A entrevista começou assim: me contaram que o senhor é um homem gentil. O que o senhor acha disso? Vestido na farda vermelha em brim grosseiro, o gari Severino Gomes Pereira, de 26 anos, respondeu à primeira pergunta com um delicado "Obrigado. Mas pelo meu modo de falar, a senhora já vai ver quem eu sou". Desarmada pela cortesia do homem de sorriso fácil, a conversa seguiu. O bate-papo era sobre gentileza, qualidade do ser humano gentil, amável, cortês, elegante, como apontam os dicionários. Qualidade que, quando existe, faz bem à saúde. Física e mental. Individual e coletiva. Mas que, quando falta, pode até adoecer de depressão e pânico quem carece dela. Porque o poder da gentileza é terapêutico. Severino trabalha na comunidade chamada Detran, na Zona Leste do Recife. De tanto que conhece o lugar, age como fosse um guia. Sabe das ruas e becos. Sabe também dos nomes e sobrenomes da maioria dos moradores. Presta atenção nas casas e famílias. "Tanto a comunidade precisa de mim, quanto eu preciso dela", comentou o gari (primeira e única profissão de Severino, há oito anos). "Às vezes, quando eu tenho um problema pessoal e vou trabalhar, falo com as pessoas da comunidade e volto para casa sorrindo. Aí, minha mulher começa a dar um bocado de beijos em mim e eu começo a beijar a minha filha. Um bom dia que eu dou ali termina me ajudando lá na frente, né?", contou Severino, que mora no Morro da Conceição. Para ele, os cumprimento são tão ou mais espontâneos do que o próprio ato de varrer. Palavras, olhares e gestos gentis como os de Severino acontecem espontaneamente. Não surgem de obrigação, imposição, promessa ou penitência. Mas são mantidos com práticas, exercícios. A maioria simples, bem simples. "Fazer coisas ordinárias com um amor extraordinário". A frase da Madre Teresa de Calcutá (1910 a 1997) inspira a veterinária Laurimar Thomé, de 35 anos. "Desde pequena eu presto atenção no outro. Eu estudava em colégio de padre e, quando o frei não servia o café às pessoas do lado de fora do muro, eu ia em casa e dava o café", recordou Laurinha. "Os bichos da rua eu recolhia todos", contou. E não consegue até hoje. Nem com bicho, nem com gente. Há cinco anos, Laurinha coordena, com a ajuda de um grupo de amigos, o projeto social "Eu Sou do Bem", que acompanha 60 crianças e famílias do Coque, na Ilha Joana Bezerra. "Começou quando um dos meninos de rua que eu conheci, que inclusive já morreu, pediu para eu ver uma bebezinha que tinha feridas por todo o corpo. Eu vi e corri atrás de ajuda de várias pessoas para tratar a menina. A solidariedade foi se espalhando e o grupo não conseguiu mais sair de lá", lembrou a veterinária, disfarçando as lágrimas nos olhos. A bebê se chama Elisa e hoje é uma das 60 crianças do projeto. "Gentileza é uma qualidade que a gente pode aprender e exercitar, fazendo coisas simples. Quem não faz gentilezas é porque é carentes disso também", observou. Saúde - "Eu acho difícil falar das coisas que faço. Mas, se perguntar as gentilezas que já ganhei, eu falo aos montes. Acho que eu tenho um crédito na terra de tanta gentileza que já recebi", brincou. "Acredito piamente que gentileza gera gentileza. É exatamente isso que me fortalece para tudo", afirmou Laurinha.
Laurimar tem razão. Ao menos para a medicina, a psicologia e outras ciências que tratam o ser humano. "Quando começamos a estudar o poder da gentileza, focávamos nos ambientes das grandes empresas. O negócio era reduzir custos de despesas médicas e faltas no trabalho. Hoje, a gente sabe que a gentileza e a falta dela merecem uma olhar mais profundo, de sentido para vida", observou o médico Alberto Ogata, presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV), que representa no Brasil o Wolrd Kindness Movement (Movimento Mundial da Gentileza). "Há estudos de imunologia que mostram que organismos de pessoas gentis respondem melhor ao estresse, por exemplo. Elas têm mais imunidade", comentou.
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