Super-HERÓIS, MODA E ETNOCENTRISMO: O CASO BATMAN.
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Batman não tem super poderes, nunca os teve como o Homem-Aranha e o Super Homem os têm. Batman é o herdeiro único de uma fortuna que o possibilitou compensar a ausência de dons físicos investindo em tecnologia.
A perda dos seus pais não foi re-significada através de um gradativo crescimento psíquico, mas na busca de justiça que se confunde com vingança.
A alta tecnologia está na Bat-Caverna, no Bat-Móvel e uma Bat-Roupa que lhe dá proteção contra o fogo, quedas e o permite pular de grandes alturas e, até mesmo voar! Há também um Bat-Cinto, talvez inspirado no velho canivete suíço Victorinox.
Batman surgiu em maio de 1939 na revista norte-americana Detective Comics.
A Segunda Guerra Mundial que durou de 1º de Setembro de 1939 até 2 de Setembro de 1945 aperfeiçoou e transformou a personagem Batman e criou outros tantos super-heróis que serviram à ideologia etnocêntrica do povo norte-americano.
Quem domina a tecnologia, conquista o mundo e rege os ditames da moda. Assim foi com os ingleses, que, por séculos dominaram a tecnologia naval e assim está sendo com os EUA que dominam a tecnologia atômica.
As sociedades americana e inglesa são culturas herdeiras de si mesmas que não vêem o “outro pelo outro”, mas julgam as demais culturas mensurando-as o quanto se aproximam ou se afastam do seu modo de vida – The American Life. Ignorando o relativismo cultural, impõe para o mundo globalizado, através de um marketing agressivo e um capitalismo bélico selvagem seus valores etnocêntricos.
A postura ética implica no exercício de ver o “outro pelo outro” e não julgar o outro pelas lentes de sua cultura, é um exercício de relativismo cultural difícil que se opõe à toda impregnação ideológica.
Segundo Guimarães Rocha[1], Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc.
Batman traz arraigado a sua roupa toda tecnologia bélica que nos remete simbolicamente a cultura americana. Cultura etnocêntrica que impõe aos demais povos o seu modelo democrático pela guerra.
Os EUA, que são a maior potência econômica mundial e têm o maior número de prêmios Nobel, possuem também as maiores populações carcerária e psiquiátrica. Por quê?
Batman é triste, soturno, vampiresco, afetivamente embotado, imprevisível e violento, apesar de toda tecnologia que carrega em suas vestes indestrutíveis.
Gotham City é dark e underground, uma cidade doente que lembra Chicago dos anos trinta, dominada pela Máfia Italiana. Gotham City necessita de heróis para viver sem medo. Mas o terror está sempre latente, porque nos bueiros e frestas de Gotham City, surgem inimigos com poderes tecnológicos surpreendentes: Curinga, Charada, Chapeleiro Louco e Sr. Frio. Todos tão psicóticos e sem super poderes quanto Batman.
Os inimigos de Batman trazem em suas vestes o mal que os caracterizam. O etnocentrismo do herói é a força-motriz para destruí-los, porque são diferentes e incorrigíveis e não podem habitar pacificamente Gotahm City.
Tanto na série televisiva dos anos sessentas e setentas, como nos filmes para o cinema, o herói Batman transmuta-se em vestimentas de morcego elegante e seus inimigos usam roupas excêntricas que os ridicularizam. É assim que uma cultura etnocêntrica vê e julga a outra: de forma bizarra, selvagem e sempre kitsch; sua missão é convertê-la, ou, na impossibilidade de conversão, destruí-la através dos refinados métodos da poderosa tecnologia bélica que possui.
E foi isso que os norte-americanos fizeram com os índios, esquimós e estão fazendo no Iraque, impondo um modelo democrático e etnocêntrico pela guerra contínua. Talvez os norte-americanos alimentem a esperança de que um dia o mundo islâmico use calça jeans, camiseta branca e tênis.
Na verdade, é bem mais do que isto, visto que a cultura islâmica também é etnocêntrica, por isso que no choque bélico de duas culturas etnocêntricas dá-se uma guerra sem fim, principalmente quando se perde o medo da morte.
Os EUA esqueceram-se dos chineses, outra cultura etnocêntrica que a cada dia conquista o mercado globalizado, mas os chineses não são regidos pelo espírito vampiresco de Batman, eles ainda tem o fantasma de Mao Tse Tung bem nítido em seu cotidiano.
Há uma esperança de que num futuro próximo o país que dominar a tecnologia da reciclagem domine o mundo, porém, que seja uma dominação destituída de valores etnocêntricos e repleta de valores ambientais, sem “ecoterrorismo”. Seria mais interessante viver num mundo assim, onde os super-heróis usassem roupas feitas de fibras naturais de rápida decomposição com tecnologia que seqüestrasse o dióxido de carbono e emitissem raios éticos sobre seus inimigos colocando-os na postura de “ver o outro pelo outro” e não por si mesmos. Que nomes poderíamos dar para esses super-heróis socialmente responsáveis?
[1] O que é etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 1999. Col. Primeiros Passos.
Saber mais: www.pascarellisciensead.com.br
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